(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
terras quilombolas ação civil pública
2007-11-01

O Ministério Público Federal em Santa Catarina (MPF-SC) ajuizou Ação Civil Pública (ACP) contra a União e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em defesa da Comunidade Quilombola de São Roque (Pedra Branca), localizada no município de Praia Grande, no sul do Estado. A ação, proposta pela procuradora da República em Criciúma Flávia Rigo Nóbrega, quer garantir a permanência dos integrantes da Comunidade São Roque nas áreas internas e de entorno dos Parques Nacionais da Serra Geral e dos Aparados da Serra Geral.

Com a ACP, o MPF quer possibilitar a utilização das terras para cultivo da comunidade, até a completa delimitação e titulação da área pelo INCRA. Para tanto, requer, em caráter liminar, o levantamento das áreas tradicionalmente utilizadas pela comunidade, já que as famílias de São Roque vivem exclusivamente da agricultura. O levantamento deverá ser feito em conjunto entre o INCRA e o IBAMA, a partir do mapeamento já realizado. Também, requer que o IBAMA não multe ou imponha penalidades aos integrantes do grupo no que disser com a exclusiva utilização das áreas do parque para moradia e cultivo de subsistência. Outro pedido é para que o Juízo autorize a Prefeitura Municipal de Praia Grande a executar melhorias na via de acesso à comunidade.
 
 
Comunidade de São Roque

Em caráter final, o MPF requer que seja declarado o direito de propriedade da Comunidade São Roque sobre as terras tradicionalmente ocupadas. A intenção é que o IBAMA inclua no Plano de Manejo do Parque, ações para disciplinar as relações sociais e econômicas da unidade de conservação com a comunidade. A idéia é compatibilizar a permanência dos quilombolas com a proteção dos biomas naturais do Parque.

Para Flávia, a preservação ambiental não pode ser pensada de modo excludente. “A proteção ao meio ambiente inclui a preservação do patrimônio cultural, de sorte que, certos grupamentos, pela importância de sua história e cultura no panorama da sociedade brasileira, gozam de atenção diferenciada”, esclarece.

O IBAMA ingressou com Exceção de Incompetência, a fim de levar a ação para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Porém, a JF entendeu que, embora a área do Parque fique na divisa entre os municípios de Praia Grande e Mampituba (RS), o problema não é de âmbito regional, mas local. Assim, o pedido foi julgado improcedente, mantendo a competência para processar e julgar a ação na Justiça Federal em Criciúma.

Acordo extrajudicial 

Numa tentativa de buscar uma solução mais rápida para os moradores, o MPF realizou reunião com representantes do Instituto Chico Mendes, INCRA, Movimento Negro Unificado (MNU) e representantes da Comunidade. Na oportunidade, estabeleceu-se que os membros da Comunidade que residem na área interna do Parque firmariam um Termo de Compromisso com o diretor dos Parques Nacionais do Aparados da Serra e da Serra Geral, Deonir Geolvane Zimmermann, com o objetivo de regular o uso da terra enquanto não ocorrer a demarcação definitiva. A área contemplada será definida em vistoria conjunta, a ser realizada pelo IBAMA e pelos analistas periciais do MPF. O Termo também possibilitará a reforma das casas e o cultivo da terra nas áreas utilizadas pelos posseiros até 2004. A solução não contempla a totalidade das famílias residentes dentro do Parque, mas consiste em  um avanço no sentido de se obter a composição do litígio existente.

Para a procuradora Flávia, o termo reflete a postura da nova direção do Parque, “atenta ao fato de que o meio ambiente e o ser humano são elementos interligados, e que proteção ambiental de que dá conta a Constituição Federal não pode ser dar em desrespeito aos demais valores constitucionalmente assegurados, como a dignidade da pessoa humana e a proteção das minorias indígenas e quilombolas, enquanto grupos étnicos dotados de um rico patrimônio cultural material e imaterial”.
 

Saiba mais

Formada por aproximadamente 26 famílias, segundo relatos a Comunidade São Roque reside na localidade da Pedra Branca há várias gerações. Conforme os mais antigos, a comunidade começou a se formar por volta de 1824, por escravos que resistiram à condição de cativos. Refugiados no local, os membros libertos do trabalho escravo formaram um território independente, no qual viviam de forma comunitária, com regras e regime diferenciado.

Porém, na década de 80, a área ocupada pela Comunidade São Roque foi integrada ao Parque Nacional de Aparados da Serra Geral – PARNAS. A partir daí, os moradores começaram a sofrer limitações em seu direito de residir e cultivar as terras. Mesmo amparados pela Constituição, que reconhece e defende o Estado brasileiro como pluriétnico e multicultural, os moradores ficaram numa posição social extremamente fragilizada.

Em junho de 2004, a Fundação Cultural Palmares reconheceu São Roque ou Pedra Branca como remanescente de quilombo, tornando-se a primeira comunidade em Santa Catarina a obter este reconhecimento. Porém, apesar do reconhecimento pela Fundação, que é vinculada ao Ministério da Cultura, até hoje a comunidade aguarda a titulação e delimitação de suas terras pelo INCRA.

A morosidade no processo de reconhecimento vem dificultando a vida dos moradores, que têm sofrido com a proibição de utilizarem as áreas do parque pelo IBAMA, administrador da unidade de conservação. Segundo o MPF, o órgão ambiental passou a aplicar pesadas penalidades administrativas às famílias que residem no local. Segundo a procuradora Flávia, o IBAMA vem aplicando multas vultosas, “impossíveis de serem pagas pelos integrantes da comunidade, todos pessoas humildes, que vivem em flagrante situação de vulnerabilidade social”. 

ACP nº 2007.72.04.001338-9

(Ascom MPF-SC, 31/10/2007)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -