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2007-07-13

Sogbéné Soro garante que pode curar várias doenças, como lepra e eczema. Mas cada vez fica mais difícil praticar seu ofício devido à escassez de plantas com propriedades medicinais. “Preciso lutar contra a falta de plantas”, disse o curandeiro à IPS. Várias comunidades e lenhadores destruíram a selva da localidade onde Soro vive e onde há 15 anos podia colher raízes, folhas, cascas e ervas que usa para curar. Agora, é obrigado a percorrer distâncias maiores, seja de motocicleta ou automóvel, para encontrar a matéria-prima de seu trabalho. Além disso, a invasão da selva dificulta a busca de animais selvagens, também usados pelos curandeiros.

 

“Na aldeia de Koyadougou, noroeste do país, temos escassez de algumas espécies de animais que possuem algumas parte com propriedades medicinais”, explicou Inza Fofana, caçador e curandeiro. “A carne e a gordura do leão, por exemplo, ajudam a tratar dores nas articulações, fraturas e reumatismo. O esperma do elefante é usado contra a impotência, e o chifre do rinoceronte é bom para acabar com a asma”, disse Fofana. Cercado por pequenas garrafas e sacos plásticos cheios de pós e líquidos extraídos das plantas, Soro diz que foi obrigado a aumentar o preço que cobra para cobrir os gastos com transporte. Naturalmente, isso não agradou aos clientes, mesmo com os preços dos remédios tradicionais serem bem mais baixos do que os dos medicamentos modernos, quando são encontrados.

 

Nos últimos anos, a Costa do Marfim se viu envolvida em uma guerra civil que a dividiu em duas: o norte controlado pelos rebeldes e o sul pelo governo. A violência começou em setembro de 2002, depois de um falido golpe de Estado. As insurgentes Forças Novas acusaram o governo de marginalizar a população do norte os habitantes de origem estrangeira. O conflito obrigou médicos e outros trabalhadores da saúde, em sua maioria funcionários estatais, a abandonar o norte. Também foram fechadas as farmácias. A população dessa região tem maior inclinação em consultar curandeiros.

 

Várias organizações ambientalistas criticaram a superexploração da selva deste país da África ocidental. Segundo a ONG Grupo Ecológico Marfinense (Geci, sigla em francês), com sede no centro financeiro de Abidjan, dos 16 milhões de hectares de selva que existiam no país na década de 60 restam apenas seis milhões. O diretor-executivo do Geci, Jacob N’Zi, disse que das 123 empresas que trabalham na indústria da madeira, somente duas respeitam a legislação em matéria de proteção das florestas. As madeireiras ignoram a cota imposta pelo governo de extrair entre dois mil e 10 mil metros cúbicos de madeira por ano, acrescentou.

 

Essa violação das leis custou ao Estado mais de US$ 400 milhões entre 2003 e 2006 e as autoridades são em parte responsáveis pela situação atual, segundo Kouadio Gnamien, da organização não-governamental Ecologia. Há quatro meses foi assinado um acordo de paz em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, e o líder rebelde marfinese Guillaume Soro foi designado primeiro-ministro em um governo compartilhado. A área de contenção sob controle da Organização das Nações Unidas entre as partes em confronto também foi desmantelada. O processo de paz sofreu um golpe no final do mês passado, quando o avião em que viajava o primeiro-ministro sofreu um atentado na cidade de Bouaké. Soro saiu ileso, mas mais de três pessoas teriam morrido no ataque. Analistas disseram que esse fato reflete o descontentamento das Forças Novas com o processo de paz, especialmente pela decisão de Soro de assumir o cargo de primeiro-ministro tendo Laurent Gbagbo com presidente, que é chefe de Estado desde 2000.

(Por Aly Ouattara e Michée Boko IPS/Envolverde,11/07/2007)

 


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