O dia de ontem foi de caos em vários municípios da região devido à enchente do Rio Taquari. Mas não foram apenas as cerca de 600 famílias desabrigadas no Vale que enfrentaram transtornos. Em Colinas estudantes não tiveram aula porque o principal acesso à cidade estava interrompido durante o dia. Já em Lajeado a interrupção de ruas provocou congestionamentos e deixou o trânsito bastante lento em locais de grande movimento. Mas o cenário já deve ser outro hoje com a redução do nível do rio, que começou a se estabilizar às 10h de ontem em Estrela e às 15h em Encantado.
Na primeira cidade o Rio Taquari chegou a 24,52 metros, 11,51 acima do normal. Já em Encantado o nível chegou a 45,64 metros, 16,74 a mais que o habitual. De acordo com a técnica do Centro de Informações Hidrometeorológicas da Univates, Grasiela Both, a enchente foi a maior dos últimos seis anos, perdendo apenas para as duas registradas em julho e outubro de 2001. "Desde 2002 nenhuma chegou a ultrapassar a marca de 24 metros." Nas ocorridas em 2001 o Rio Taquari subiu em Estrela 26,3 metros em julho e 26,95 em outubro. Já em Encantado os níveis aumentaram 46,67 em julho e 47,77 em outubro. A técnica acrescenta que com a estabilização do Taquari a situação de normalidade deve ocorrer gradualmente. "A descida da enchente é sempre mais rápida que a subida", reforça.
A estabilização das águas soa como alívio para as cidades cortadas pelo rio. Entre as mais afetadas estão Lajeado, Estrela, Encantado, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Colinas, Roca Sales e Muçum. A expectativa é de que a situação se normalize a partir de hoje. Assim que as famílias retornarem para as residências devem encontrar destruição e muita sujeira para limpar. A boa notícia é de que com o frio o sol deve voltar a brilhar na região.
LajeadoEm Lajeado mais de 30 funcionários da prefeitura passaram a madrugada de quarta-feira em claro para ajudar na remoção das 150 famílias atingidas, instaladas no Ginásio Municipal Professor Nelson Francisco Brancher e em pavilhão no Parque do Imigrante. Pessoas como Janete e o marido Dorvalino Milani, que passaram a noite no teto da casa no Bairro José. Foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros por volta das 10h. "Eu perdi tudo", disse ela, perturbada. Teve de pedir roupas emprestadas. "Vou fazer injeção contra a leptospirose, pois passei a noite molhada e na companhia dos ratos. Mas graças a Deus ninguém morreu afogado." No Bairro Praia a atenção de Rafael Pereira estava voltada para a limpeza. Ele começou a faxinar por volta das 15h, meia hora depois que a água cedeu. Ela inundou todos os cômodos da casa e chegou a 60 centímetros na sala.
Segundo a secretária do Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas), Nelsi Hepp, as famílias foram visitadas logo pela manhã pelas assistentes sociais. Averiguaram a necessidade de agasalhos e alimentação. O coordenador da Defesa Civil no município, Enio Hepp, enfatiza que este ano muitos optaram por ficar em casas de parentes e vizinhos. Ele estima que as despesas municipais com a enchente ultrapassem R$ 40 mil, em função do pagamento de horas extras, limpeza de ruas e bueiros e gastos com o deslocamento dos flagelados.
ForquetinhaEm Forquetinha a Ponte dos Storck ficou obstruída por cerca de quatro horas durante a noite. Mas esse foi o único incidente. O prefeito Lauri Gisch diz que as águas não interferiram no cotidiano do município.
TaquariOs moradores das áreas ribeirinhas são vítimas de mais uma cheia do Taquari. No Bairro Praia as águas invadiram as residências, mas não há notícias de que alguém tenha deixado sua casa. "As pessoas costumam construir estruturas altas e vão para a parte superior, permanecendo até que a água chegue lá", diz a coordenadora de Assistência Social Fabiane Rosa Machado. O rio subiu mais de seis metros, superou as muretas laterais da ponte sobre o Arroio Tinguité, que dá acesso à área de camping e à localidade do Caramujo, ambos sob a inundação. A balsa, que faz o translado para General Câmara, teve seus trabalhos interrompidos ontem à tarde devido à forte correnteza.
Bom Retiro do SulA água subiu cerca de 18 metros acima do nível, segundo a Portobras, empresa que administra a barragem. A enchente atingiu a população ribeirinha, mas segundo a coordenadora do Departamento de Assistência Social, Isabel da Silva, ninguém teve que ser retirado de casa. Isabel ressalta que aqueles que realmente precisarem da ajuda do município podem procurar a Assistência Social.
Parte da Rua Senador Pinheiro Machado, na cidade baixa, também sofreu com a cheia, vários estabelecimentos comerciais da via foram atingidos e os comerciantes passaram a noite tirando produtos. No Bairro Goiabeira a Escola Genny de Souza da Silva não teve atividades ontem devido à cheia que também atingiu o educandário. Em uma empresa de ônibus localizada próximo à barragem alguns veículos ficaram no pátio.
EstrelaA Defesa Civil de Estrela, com auxílio da prefeitura e entidades, removeu durante a madrugada de ontem 43 famílias para o Ginásio Ito Snell, no Bairro Oriental, e casa de parentes. Os bairros mais atingidos foram Marmitt, Moinhos, Oriental, Centro, Imigrante e Boa União. E diversos outros pontos da cidade foram inundados pela água, como o Parque Princesa do Vale e a Pista de Bicicross recém-construída na Rua Júlio de Castilhos, a praça de lazer do Bairro Imigrante - mais conhecido como "Chácara" -, a ponte baixa na Rua Tiradentes, as ruas Coronel Brito nas proximidades da Brigada Militar, Germano Hasslocher, a dos Marinheiros, a Coronel Flores - atingindo o Campo do Estrela e o Centro Municipal de Atendimento Integrado -, e a Avenida Rio Branco, nas proximidades da Delegacia de Polícia. Em função dos alagamentos as atividades no Posto de Saúde do Bairro Moinhos, que conta com o Programa Saúde da Família, foram suspensas, sendo a equipe de profissionais deslocada para o ginásio, a fim de atender as famílias alojadas. No Marmitt quase metade dos 200 alunos da Escola 20 de Maio não foi às aulas porque ficou ilhada. As professoras Marinês Müller e Marisa Goergen aproveitaram a ocasião para ensinar duas turmas de 5ª série que foram até a Avenida Rio Branco. "Eles estão estudando o solo e a água. Hoje viram de perto o conteúdo da matéria", informa Marisa, a professora de Ciências.
Na manhã de ontem era grande o número de curiosos que observavam a inundação. Rodrigo da Silva tirou fotos de seu celular. Ele mora na rua desde pequeno e sua casa foi atingida. Acordou às 3h da madrugada para ajudar a fazer a mudança. Acabou às 5h30min com a água batendo nos pés. Os móveis ficaram no caminhão do vizinho e ele teve que comprar um tênis para passar o dia porque os velhos foram inutilizados. "Peguei cinco enchentes desde 1986. Ninguém merece um troço desses. Ainda tem o transtorno de limpar tudo."
ColinasO prefeito Edelbert Jasper não precisou decretar estado de emergência. Apenas três casas ficaram cobertas pelas águas do Rio Taquari, mas por precaução, sete famílias foram removidas. A Rua Fernando Ferrari, no Centro, foi a área mais atingida. Todas as aulas acabaram canceladas ontem pela manhã para evitar preocupações dos pais. Os funcionários da Indústria Movelar também foram liberados do trabalho e todos os acessos à fábrica, interrompidos.
A situação de maior risco aconteceu na Rua 21 de Outubro, divisa com Imigrante. Um automóvel Renault Clio com dois ocupantes foi arrastado quando tentou atravessar uma rua bloqueada pela água. As unidades da Brigada Militar das duas cidades conseguiram resgatar os passageiros, que se abrigaram no teto do carro quando a enchente começava a cobrir o automóvel. Na Linha Roncador um caminhão Mercedes-Benz também entrou na água e precisou ser retirado pelo Corpo de Bombeiros de Estrela. Ainda não foi possível calcular os prejuízos do alagamento.
Cruzeiro do SulForam removidas 43 famílias na noite de quarta-feira e instaladas em uma escola desativada no Bairro Cascata e nos pavilhões comunitários da Vila Szwirtes e de Esportes do Centro. A secretária de Saúde Aneli Hendler salienta que os pontos mais atingidos foram a zona central, Vila Szwirtes, Passo de Estrela, parte da Vila Célia e o Bairro Cascata. As famílias que estão abrigadas receberam roupas e 40 cestas básicas. O ônibus para Venâncio Aires foi suspenso, porque o trânsito pela Rua Dom Pedro II foi interditado. Os passageiros que tiveram de se deslocar a Lajeado também tiveram o trajeto desviado da Rua Germano Neto. Na zona central dois campos de futebol ficaram submersos. A casa do oleiro João Rogério Fernandes foi uma das oito atingidas no Bairro Cascata. Ele se surpreendeu com o volume de água. "Eu não achei que ia aumentar tanto." Geladeira, fogão e outros eletrodomésticos ficaram dentro do imóvel. Não deu tempo nem para tirar as roupas do varal. O serviço voluntário foi destaque. Produtores rurais mobilizaram-se e doaram alimentos aos desabrigados motivados pela campanha do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Roca SalesApenas dez famílias foram retiradas de suas casas em Roca Sales e alojadas no Salão Paroquial Católico - as águas atingiram cinco residências. A prefeitura havia transferido para casas em um loteamento popular as famílias que residiam em zonas ribeirinhas. "Ainda vai chegar a vez dessas outras cinco", afirma o secretário de Obras Airton Botega. O problema mais grave foi a interrupção de algumas estradas do interior, o que dificultou a locomoção de caminhões que fazem o transporte de ração para as criações de frangos e suínos.
Prejuízos para estudantes que tiveram de sair mais cedo das aulas e para funcionários de algumas empresas, como da Beira Rio, que se deslocam diariamente de Lajeado, Arroio do Meio, Encantado e Muçum. A estrada que liga o interior à Júlio de Castilhos ficou interditada e até a tarde de ontem estava obstruída para passagem, assim como o acesso ao interior por estradas onde passa o Arroio Augusta Alta. Aulas canceladas no Colégio São José, na Estadual Padre Fernando, no educandário da Linha Júlio de Castilhos, e na Perpétuo Socorro de Arroio Augusta Alta.
EncantadoMais de 300 famílias foram deslocadas de suas residências devido ao risco de alagamento - 84 tiveram suas casas atingidas. Muitas das residências desocupadas foram por precaução, já que 30 centímetros salvaram o Bairro Navegantes da inundação. "Quando a água chega lá é rápido até alargar tudo", explica o secretário de Obras Sérgio Zambon. Só deste bairro foram retiradas 215 famílias. "O trabalho foi realizado em um grande mutirão que envolveu 30 caminhões da prefeitura e de empresas, além de cerca de cem pessoas que ajudaram na remoção." As famílias foram alojadas no Parque João Batista Marchese e em outros ginásios comunitários. A maior parte retornou para suas casas ainda na tarde de ontem.
A viúva Marelí Isidoro (33), que tem quatro filhos menores, moradora do Bairro Lago Azul, adquiriu a casa há pouco tempo e ainda não terminou de pagar. "Comprei aqui porque me disseram que não pegava enchente, mas quando veio a água bateu o pavor. Não deu tempo para nada. Juntamos o que deu."
MuçumAs dez famílias retiradas de suas residências na tarde de terça-feira e alojadas no ginásio municipal retornaram ontem para suas casas. Conforme o secretário da Administração Rubens Pedrotti, a prefeitura disponibilizou caminhões para o transporte. "Mas o que mais chamou atenção foi a solidariedade. As pessoas ajudaram a quem precisasse, de forma voluntária." Na medição do nível do rio no local onde antigamente era feita a travessia de barca as águas estabilizaram-se em 21,1 metros.
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O Informativo do Vale, 12/07/2007)