A autorização do Ibama para que seja feita a licitação das duas usinas do Rio Madeira, arrancada à força pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é vital mas não é tudo. As usinas são absolutamente necessárias, mas não suficientes. Não chegarão a tempo para evitar o risco de racionamento. Os projetos arrastaram-se por dois anos nos meandros do Ibama. Se obra começar no próximo ano, as usinas entrarão em operação somente por volta de 2012, quando a escassez de energia provocada por um crescimento econômico de 4% ou 5% ao ano já estará entre nós.
Mas, mesmo atrasados, teremos os 6.450 MW salvadores Madeira! Certo? Não, errado.
Na realidade, o que o Ibama autorizou agora foi apenas a licitação do projeto para ver quem vai se encarregar do empreendimento, não do início da obra. Quem ganhar terá de apresentar de novo o projeto final ao Ibama para sua avaliação. E aí, começa tudo de novo, a via sacra ambiental imprevisível. Ibama.
Há pela frente quatro novas etapas a vencer até o fornecimento de energia: autorização do Ibama para que as obras possam ser iniciadas; certificação de que as 33 exigências ambientais constam do projeto e sua fiscalização; aprovação de um novo projeto para a instalação das linhas de transmissão de mais 2 mil quilômetros até os centros consumidores; e, se as escavações encontrarem no subsolo resíduos de civilizações indígenas antigas, objetos de cerâmica ou algo semelhante, será preciso obter uma nova autorização agora do Instituto de Patrimônio Histórico.
Como? Tudo isso? Sim, tudo isso e mais os obstáculos jurídicos, tão fáceis de se conseguir no Brasil, o que provocaria mais atrasos.Estamos cansados de ver isso acontecer.
Tem mais, tem mais...
Uma vez vencidos todos esses obstáculos, ainda não estaremos livres do racionamento. Isso porque se tudo der certo, se as obras forem concluídas, apenas uma turbina de 73 MW começará então a operar. Outras virão a partir de cada mês, até completar os 6,450 MW salvadores a médio, mas não em curto prazo.
Não dá pra esperar
O Brasil tem a fantástica imensidão de 250 mil MW nos seus rios. Destes, estima-se que 180 mil MW estão nos rios encachoeirados da Região Norte. É uma dádiva da natureza que enterrou o nosso petróleo nas profundezas do mar. Nos faltam o gás e o carvão, mas temos grandes reservas de urânio para compensar. O atraso das obras hidrelétricas e nucleares, ambas às voltas com a intransigência do Ibama, nos jogou à beira do precipício de uma crise energética que pode ser superada se agirmos já, agora, nesta semana, neste mês, neste momento.
Tudo é indispensável
Ninguém em bom senso e boa-fé pode afirmar que as usinas do Madeira são dispensáveis, pois temos a mesma fonte em outros rios do País, distantes do 'santuário' amazônico. Isso é uma falácia, um engano que vem sendo usado pelos ambientalistas fanáticos. Para cada nova usina menor, teríamos a multiplicação dos problemas das usinas já tecnicamente aprovadas do Madeira. Seria entrar novamente no torvelinho das discussões inúteis, substituir a salvação dos bagres da Amazônia por outros tantos outros peixes em outros rios. E aí teremos mais problemas com o Ibama. Duas usinas do Madeira podem substituir quatro ou cinco outras.
Sou ambientalista, sim!
Veja, eu também me preocupo e muito com o meio ambiente, sou ambientalista, mas não sou fanático. Recuso-me a trocar um prato de comida do trabalhador brasileiro pela simples preservação de algumas árvores entre as dezenas de milhares que embelezam a imensidão dos 5.500 quilômetros quadrados da Amazônia nacional. E estou convencido que a enorme maioria do povo brasileiro também pensa assim. Todos nós queremos evitar uma lesão ambiental, mas queremos acima de tudo impedir o dramático racionamento de 2001 que jogou o País e o povo na mais profunda recessão. Repito, sou ambientalista, mas não fanático. Esta coluna quer o respeito ao meio ambiente, sim, mas ao ser humano também. Concluindo, as usinas do Madeira são vitais, indispensáveis, tem de começar a ser construídas já, como também são absolutamente indispensáveis as térmicas a gás, óleo, urânio, bagaço de cana - deixemos de lado as de carvão poluente - para evitar a tragédia do racionamento que, sem elas, certamente viria nos próximos anos roubando o emprego do nosso trabalhador já tão sacrificado.
Madeira, sim, em médio prazo - e podem atrasar muito. Térmicas também, como complementação salvando-nos enquanto não vêm as usinas da Amazônia. Tudo o mais é fanatismo ideológico que um país como o nosso, que só agora começa a se desenvolver, não pode aceitar. Temos tudo para continuar crescendo. É só derrubar os falsos obstáculos que alguns insistem em colocar.Tenho dito e repetido que o Brasil tem pressa. Não pode recuar de novo, pois foi só o que fez até agora. Sem energia, não somos nada e não podemos nos mudar, todos nós, para o santuário sagrado da Amazônia.
(Por Alberto Tamer,
Estado de S. Paulo, 12/07/2007)