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2007-07-12
Até o final do ano o governo precisa apresentar um plano consolidado de adaptação e mitigação ao aquecimento global. Segundo o físico Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, o país não pode esperar mais do que isso para tomar uma atitude.

"Um plano desse tipo é permanente, vai se refazendo de quando em quando. Se não houver uma proposta substancial até dezembro, vai ser difícil que algo seja feito ainda neste mandato do presidente Lula", disse Pinguelli à Folha.

Na opinião do físico, o plano do governo deve considerar no mínimo dois aspectos: metas de redução do desmatamento na Amazônia e corte no consumo de combustíveis fósseis pelos automóveis. Pinguelli, que também é pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), detalhou sua posição ontem em Belém, em palestra na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

Anteontem, em Brasília, Pinguelli se reunira com o ministro Roberto Mangabeira Unger (Secretaria de Planejamento de Ações de Longo Prazo) para discutir a questão das mudanças climáticas globais.

O fórum -que é presidido pelo presidente da República e conta com participantes do próprio governo e dos setores acadêmico, empresarial e da sociedade civil organizada- entregou no mês passado um relatório com um conjunto de sugestões para ser incorporadas ao futuro plano que o governo deve fazer.

"Tenho clareza que nosso documento, digamos, é intelectual. Ele tem uma certa coerência, os pontos são muitos concretos. Mas a minha pergunta agora é: quais desses [itens] serão considerados?"

Pontos polêmicos
Um dos pontos principais de um futuro plano, segundo Pinguelli, é o estabelecimento de metas de redução do desmatamento da Amazônia. Esse processo, muitas vezes ilegal, contribui com três quartos das emissões de gases de efeito-estufa do Brasil, segundo números já antigos, de 1994.

"Não vejo porque isso não pode ser feito. Metas precisam ser definidas sim". De acordo com Pinguelli, o Fórum de Mudanças Climáticas ainda não fez nenhum tipo de cálculo sobre qual seria a meta ideal. "[Evitamos] isso para não engessar nada antes", afirmou.

"Talvez seja possível usar os números dos três últimos anos e fazer uma projeção para os três próximos", disse o físico. "Na questão dos automóveis, por exemplo, a nossa proposta é algo perfeitamente factível, e no Rio de Janeiro já se faz. É uma aferição anual da situação dos veículos, das emissões de carbono."

Com seu entusiasmo retórico, já conhecido por outros cientistas, Pinguelli usou o exemplo do transporte urbano para defender uma mudança nos padrões atuais de consumo. "Veja o caso dos grandes jipões: é um absurdo o que essas grandes picapes consomem", afirmou. "Precisamos desenvolver uma espécie de índice de eficiência energética e ligar isso a algum tipo de taxação", defende o pesquisador.

Crítico da energia nuclear há décadas, Pinguelli é cético quanto ao papel dessa tecnologia no combate ao efeito estufa. "É um absurdo o que vai ser gasto com Angra 3", diz "Não consegui entender por que ela será tão cara". Hidrelétricas, para ele, são mais viáveis, "desde que os problemas ambientais sejam considerados". "Se a sociedade acha que o impacto negativo vai ser fato, que não se construa a usina", diz.

(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 12/07/2007)

 


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