Depois de meses de quebra de braço entre as ministras Dilma Rousseff (Casa Civil) e Marina Silva (Meio Ambiente), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou nesta quarta-feira (11/07) a demora de dois anos na licença prévia para construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia.
"Em licença não tem facilidade", disse, ao comentar a postura do Ibama, órgão que criticou diversas vezes pelas exigências para liberar as obras. "Facilidade é se houver trambicagem", avaliou. "Se quiser respeitar o meio ambiente e estar de acordo com a lei sempre será demorado."
Em entrevista para jornais no Palácio do Planalto, o presidente avaliou, demonstrando tranqüilidade, que o Ibama também não dará facilmente outras licenças necessárias para a conclusão das obras no Madeira. Desta vez, Lula evitou críticas ao órgão. "Estou feliz", afirmou. "A Marina definiu bem: demorou mas saiu uma coisa consistente", disse.
Desde que começou o debate no governo sobre a construção das usinas, opondo Marina (contra as obras) e Dilma (a favor), o presidente fez diversas críticas ao Ibama. Em abril, numa reunião do conselho político, ele chegou a citar de forma irônica a exigência por parte dos licenciadores de garantia da preservação dos peixes do Madeira.
"Agora não pode por causa do bagre, jogaram o bagre no colo do presidente", reclamou à época.
Ele disse considerar que o processo de licenciamento das usinas do Madeira é importante por se tratar de um projeto "simbólico". Lula lembrou que as obras da usina de Belo Monte, no Pará, por exemplo, estão sendo discutidas há 20 anos.
O presidente reclamou da pressão de alguns setores com relação a investimentos em energia. "Agora, no Brasil, fico vendo de vez em quando as pessoas dizerem: ´vai faltar energia, se não acontecer isso, se não acontecer aquilo. Ora, com tanto ´se´ colocado na frente da afirmação estamos todos desgraçados neste mundo", desabafou.
O presidente ressaltou que o governo tem "consciência" de que não pode faltar energia para garantir o crescimento de 5% da economia por ano. "Temos obrigação de planejar num crescimento de 5% da energia que nós vamos precisar para 2010, 2012, 2015, e vai ser assim", afirmou. "Na questão elétrica têm poucos países do mundo que trabalham com a seriedade que nós trabalhamos agora, poucos", disse.
"Porque fazemos o jogo realmente profissional para calcular o que vai acontecer no Brasil a cada cinco anos."
(Por Leonencio Nossa,
Estadão, 11/07/2007)