Na semana que vem, entre 19 e 21 de julho, um evento reunirá entidades indígenas, de ambientalistas, trabalhadores rurais e ribeirinhos em Guajará-Mirim, a 360 quilômetros de Porto Velho, para discutir as estratégias de ação frente à decisão do governo de conceder a licença-prévia às usinas do Rio Madeira. Na expectativa dos organizadores, serão 60 entidades brasileiras, bolivianas e peruanas. Na pauta, a bacia hidrográfica do rio Madeira e os desdobramentos da concessão de licença-prévia para as usinas de Santo Antônio e Jirau.
"Já íamos debater as estratégias em cada país com ou sem as licenças das usinas", diz o historiador Iremar Antonio Ferreira, do Instituto Madeira Vivo e da campanha popular Viva Rio Madeira Vivo. "Vamos procurar potencializar linhas de ação conjuntas para ter a mesma diretriz."
"Esta é uma luta difícil, o cenário da discussão é muito desigual", reconhece Ferreira. Em Porto Velho, segundo ele, a maioria da população apóia o projeto. Na linha pró-Madeira, diz, há empresários, o governo do Estado, lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), comerciantes e a maioria dos meios de comunicação. "Acho que somos 0,1% contra a obra", imagina. "No afã que as usinas vão gerar emprego, ganharam a opinião pública. Mas a maioria das pessoas desconhece os problemas que podem vir com as hidrelétricas", avalia Ferreira.
Roberto Smeraldi, diretor executivo da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, é ácido em relação à decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama. "Não negam licença nem se alguém quiser construir uma ponte entre Brasil e a África do Sul", diz. Smeraldi vê "inconsistência geral no projeto" e acredita que está iniciando uma "novela típica da Amazônia." Alfineta: "Quando se dá licença para gerar energia no meio da Amazônia, sem linha de transmissão, está se abrindo caminho para um futuro de bagunça. Como se começa uma obra assim, sem linhão? É até constrangedor comentar."
Smeraldi enxerga quatro áreas no Brasil onde se poderiam gerar cerca de 18 mil MW com preços mais baratos que a energia que virá do Madeira: com bagaço de cana (5 mil MW, nas suas contas), na repotenciação de usinas (3 mil MW), na eficiência do transporte de energia (5 mil MW) e na economia de consumo (outros 5 mil MW). "Mas o governo não quer agir nestas áreas", lamenta.
O Fórum Independente Popular do Madeira, movimento contrário à instalação das usinas, informou que está estudando as possibilidades judiciais para embargar o processo. (Com Agência Brasil, de Brasília)
(Por Daniela Chiaretti,
Valor Econômico, 11/07/2007)