Resolver um dos maiores problemas ambientais com a fabricação de combustível a partir do óleo usado em frituras. A proposta, coordenada pela professora e engenheira química pelotense Jeane Dullius, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), foi adotada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam) para abastecer os veículos que recolhem o lixo das praças e parques da capital. A alternativa que recicla o produto poluente é tão promissora que deve ser posta em prática também em Pelotas, através da Secretaria Municipal de Qualidade Ambiental (SQA) e do Serviço Autônomo do Saneamento (Sanep).
De acordo com Jeane, a universidade já trabalhava com a produção de biocombustível há cerca de dois anos, graças à iniciativa da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana. Na época, membros da entidade procuraram a Faculdade de Química da PUC para discutir uma maneira de aproveitar melhor o cereal. “Começamos a desenvolver biodiesel com os farelos de arroz. Depois da divulgação deste projeto, a prefeitura de Porto Alegre nos procurou para firmar parceria e incorporar em nossa lista de matérias-primas o óleo de cozinha usado em nossos restaurantes”, explicou a professora.
Em princípio, o combustível ecologicamente correto abastece apenas os carros destinados a recolher resíduos das praças e parques da capital. São 24 veículos ao todo. Entretanto, a intenção é, a médio prazo, implantar o processo em toda a frota da Smam.
SoluçãoAlém de reduzir gastos, a alternativa permite que o meio ambiente seja poupado por ser renovável e não poluir a atmosfera como os combustíveis convencionais. Um litro de fritura jogado no ralo da pia tem, por exemplo, a capacidade de poluir um milhão de litros d’água. “Os alunos estão empolgados com a chance de produzir energia e ainda ajudar a resolver este grave problema ambiental”, falou Jeane.
Atualmente, os três bolsistas envolvidos no projeto contam apenas com um reator de bancada fixado no laboratório de pesquisa da graduação. O aparelho tem a capacidade de produzir cinco litros de óleo a cada hora. Segundo a professora, há planos de que, a partir de outubro deste ano, a equipe possa otimizar a produção trabalhando com um reator que produza mil litros por hora. Empresas privadas já manifestam o interesse de patrocinar a expansão do projeto.
Bom para copiarA par da eficácia da fabricação ecológica de combustível na capital, o titular da SQA, Leonardo Cardoso, disse que existem tratativas com o Serviço Autônomo do Saneamento de Pelotas (Sanep) pela possibilidade de implantar projeto semelhante aqui. “Considero uma bela idéia. O que falta mesmo é saber mais sobre a logística e sobre como este processo pode ser feito”, explicou Cardoso, ao adiantar que deve viajar para Porto Alegre na próxima semana a fim de conhecer as peculiaridades da iniciativa. “Isto pode nos ajudar a resolver o problema da poluição. Queremos também planejar algo que faça com que a comunidade colete o óleo utilizado em casa e colabore com esta ação”, adiantou. Um projeto semelhante foi explorado por um grupo de alunos do Ensino Médio da Escola Santa Mônica. O trabalho apresentado semana passada na Feira de Ciências do colégio mostrava a possibilidade de fabricar sabão com óleo comestível usado.
Em nível nacionalConsiderado mais seguro que o diesel de petróleo, o biodiesel pode ser produzido a partir de gorduras animais ou espécies vegetais - como a mamona, o dendê e o amendoim - e substitui total ou parcialmente o óleo convencional em motores de caminhões, tratores, camionetas, automóveis, entre outros veículos. Para fomentar a produção do combustível alternativo, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), uma ação interministerial que objetiva implementar de forma sustentável a produção e o uso do biodiesel, técnica e economicamente. A inclusão social e o desenvolvimento regional, através da geração de emprego e renda são colocados como principais propósitos do programa.
(Por Taís Brem,
Diário Popular, 11/07/2007)