A chuva que vem castigando o Estado desde a última sexta-feira fez estragos na Serra. Na madrugada de ontem, o nível do Rio das Antas subiu cerca de 17 metros, prejudicando a construção da Hidrelétrica Castro Alves, em Nova Roma do Sul. Um dos pilares da barragem ficou submerso, e os operários não puderam trabalhar. Em Caxias do Sul, em quatro dias choveu mais do que o previsto para todo o mês.
Na estrada RS-448, um dos acessos a Nova Roma, já era possível perceber a força da água. Por volta do meio-dia, na ponte Julio de Castilhos, limite do município com Farroupilha, o Rio das Antas batia quase no topo dos pilares de sustentação da edificação. Na Estrada da Balsa, que liga Nova Roma à Nova Pádua e passa ao lado da obra da hidrelétrica, muitos moradores se aglomeravam para olhar e fotografar o movimento do rio.
O comerciante Orlando Ribeiro Marau, 53 anos, utilizou um celular para registrar o momento. A água levou a cabeceira de uma ponte de 17 metros de altura, construída para substituir a balsa e que atualmente está em uso apenas na obra. Moradores afirmaram que ônibus e máquinas utilizadas pela construtora Camargo Corrêa foram levados pela água, mas o gestor administrativo Otair Dutra não confirmou a informação.
- Vamos esperar baixar o nível do rio para avaliarmos o estrago - destacou Dutra.
Já em Bento Gonçalves, duas casas do loteamento Ouro Verde ficaram danificadas depois que um barranco despencou no início da manhã de ontem. Na Rua Calisto Orestes Sganzerla, no loteamento Ouro Verde, uma parede da casa do carpinteiro João Ferreira de Lima, 64, cedeu com a descida de um barranco, gerando danos na área de serviço e no quarto de Lima. Morando há apenas seis meses no local, ele vai retirar os móveis de dentro da casa e tentar reerguê-la. O vizinho Neivo Giotto, 51, também teve a casa danificada pelo deslocamento de terra.
- Foi às 5h da manhã. Acordei com o barulho. A pedra quebrou um pilar. Só vim buscar minhas roupas e vou morar temporariamente com meu pai - contou Giotto, morador do Ouro Verde há três meses.
Em Santa Tereza, distante cerca de 40 quilômetros de Bento, o nível do Rio Taquari subiu 15 metros, e a população foi orientada a deixar as casas próximas ao rio. O Exército, a Brigada Militar e os bombeiros de Bento Gonçalves foram chamados para ajudar a abrigar algumas famílias no Salão Paroquial do município. As autoridades estão projetando que o rio suba um metro a cada hora. A última enchente na cidade ocorreu em 2001.
Mais desabrigadosPelo menos nove cidades que ficam nos vales dos rio Caí, Paranhana, dos Sinos e Taquari foram atingidas por alagamentos. A situação mais grave é em São Sebastião do Caí, onde às 18h de ontem, o Rio Caí estava mais de 11 metros acima do normal e havia desabrigado pelo menos 100 pessoas, segundo a Defesa Civil. O bairro mais atingido é o Navegantes. Caminhões da prefeitura foram disponibilizados para retirar as famílias dos locais de risco. Parobé e Igrejinha, no Vale do Paranhana, registraram cerca de 80 desalojados cada. Foram registrados alagamentos e desabrigados também em Taquara, Estrela, Novo Hamburgo, Campo Bom, Montenegro e Encantado.
(Por Juliana Almeida,
Pioneiro, 11/07/2007)