O mesmo instinto de zelar pelo território onde vivem, que rendeu aos quero-queros o título de Sentinela do Pampa e de ave-símbolo da Base Aérea de Santa Maria (Basm), faz com que o pássaro, ao lado de urubus e outras espécies, seja uma ameaça aos pilotos que decolam e pousam na pista. Não há estatísticas oficiais, mas, segundo o tenente-coronel Ricardo Mangrich, comandante da Base, o número de pássaros nas redondezas tem crescido mais que o normal.
São várias as explicações para o fenômeno. Segundo o capitão Henrique Rubens Balta de Oliveira, chefe da seção de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos da Basm, em um único momento, militares que monitoram o número de aves nos 4 quilômetros quadrados de pista teriam flagrado 200 passarinhos. O normal, segundo estudos feitos por eles, seriam até 8.
O choque de um quero-quero de meio quilo contra uma avião em movimento pode gerar um impacto de até 4 toneladas. No caso de um urubu com cerca de 2 quilos, a força pode chegar a 7 toneladas. Se esses pássaros entrarem no motor, podem derrubar o avião. O quero-quero costuma enfrentar as aeronaves para afugentar os "invasores" .
TécnicasDesde 2005, os militares têm empregado técnicas para afugentar os animais, como ligar sirenes e estourar foguetes. Agora, a Basm comprou dois filhotes da raça border collie, conhecidos como ovelheiros, que farão passeios na pista para espantar os bichinhos.
Uma parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) proporcionará um estudo sobre as aves. Se for comprovado o aumento, o Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pode sugerir formas de espantar os pássaros. A última alternativa, segundo Mangrich, seria o abate de parte delas.
Desequilíbrio contribui para o problemaDesde que a aviação existe, pássaros representam risco aos pilotos. Porém, o aumento das aves em volta das pistas de pouso e decolagem, nos últimos anos, tem despertado a preocupação das forças aéreas de diversos países. Mas, afinal, o que faz com que o número de animais seja cada vez maior em torno dos aeroportos?
A explicação mais correta, segundo o tenente-coronel Ricardo Cesar Mangrich, comandante da Base Aérea de Santa Maria (Basm), é o desequilíbrio ecológico. Aeroportos, bases aéreas e pistas de vôo em geral foram e são projetadas em lugares distantes de cidades e vilas muito habitadas, principalmente devido aos incômodos que o barulho dos aviões costuma causar aos moradores.
Com o crescimento das cidades e bairros perto destes lugares, as aves que viviam nos campos acabaram "invadindo" os gramados e até as pistas dos aeroportos para procurar alimento (ratos, cobras etc). Segundo Mangrich, práticas de "vizinhos" de aeroportos colaboraram para que estas presas de aves de rapina, como os quero-queros e urubus, se reproduzam. Acumular lixo em um raio de 20 quilômetros de distância de pistas de vôo é um exemplo.
(Por Bianca Backes,
Diário de Santa Maria, 11/07/2007)