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angra 3 eficiência energética
2007-07-11
Rio de Janeiro – A decisão do conselho de ministros de aprovar a construção de uma terceira usina atômica no Brasil – uma obra paralisada há 21 anos – é considerada por ecologistas a reativação de um plano nuclear de alcance mais amplo que superaria inclusive as finalidades estritamente energéticas. A central nuclear Angra 3, que terá capacidade de 1.350 megawatts, se integrará à paisagem de Angra dos Reis, ao sul do Estado do Rio de Janeiro. Nesta zona turística conhecida pela beleza de suas praias, a cor turquesa das águas e a vegetação exuberante de suas ilhas contrastam com o concreto de outras duas centrais nucleares, Angra 1 e Angra 2, encravadas à beira-mar, ao lado de uma estreita estrada e montanhas.

A obra, que estará terminada em 2013, custará ao governo US$ 3,7 bilhões e, segundo o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, é a alternativa mais barata e de melhores condições ambientais porque não emite gás carbônico, um dos contaminantes ligados à mudança climática. Essa opinião foi rebatida por Guilherme Leonardi, coordenador da Campanha de Energia Nuclear da organização ecologista Greenpeace. Em entrevista à IPS disse que se trata de uma “decisão equivocada” e “um grande erro para o Brasil”, embora o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem a palavra final, possa voltar atrás, afirmou.

“A opção que o Presidente tem em mãos é a de gastar mais de US$ 3,5 bilhões em um tipo de tecnologia que irá gerar pouca energia, demorará muito tempo para produzi-la, produz lixo radioativo e traz consigo a possibilidade de acidentes”, afirmou Leonardi. O programa nuclear brasileiro data de 1975, quando, através de um acordo assinado com a Alemanha, o regime militar da época se propôs construir oito centrais atômicas e desenvolver no País o ciclo completo do combustível nuclear. Na prática, além de Angra 1, que foi construída em 1969, se concretizou apenas a construção de Angra 2. Juntas representam apenas 2% da matriz energética brasileira, que em 91% se origina em turbinas hidrelétricas.

O Greenpeace, assim como especialistas em energia elétrica como Luiz Pinguelli, do Centro de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, consideram que a opção pela energia nuclear é equivocada, especialmente em um país com tantas opções de produção de energias renováveis e limpas. Enquanto Pinguelli defende mais investimentos em energia hidráulica, Leonardi propõe fontes com a eólica e solar. Segundo o Greenpeace, só a partir dos ventos (energia eólica) o potencial energético brasileiro é de 1.243 gigawatts. A título de comparação, Leonardi destaca que a demanda de energia atual no Brasil é inferior a 100 gigawatts, “ou seja, o potencial eólico do País é superior ao consumo nacional atual”.

Além disso, necessita-se de um plano de “eficiência energética”, ou seja, de redução da demanda de energia. Em virtude do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, no qual o governo investiu US$ 442 milhões, a economia energética foi de 5.124 megawatts em 20 anos, recordou Leonardi. “Com cerca de 12% do que custará terminar Angra 3 se fez disponível o equivalente a quase quatro vezes o que essa usina geraria”, comparou o especialista. Leonardi antecipa um cenário energético em 2050 com 88% da energia procedentes de fontes limpas e 12% do gás natural.

O Brasil possui a sexta maior reserva de urânio, matéria-prima para o combustível utilizado nas centrais nucleares. Além disso, a partir do programa nuclear iniciado pela Marinha brasileira em 1975 o País conseguiu dominar todo o ciclo do combustível nuclear, isto é, até seu enriquecimento em nível industrial, a partir do método de centrifugação, um processo que atualmente completa no exterior porque as duas usinas nucleares em funcionamento não justificam essa produção brasileira.

Entretanto, para o presidente da Indústrias Nucleares Brasileiras, Alfredo Tranjan, com a possibilidade de uma terceira usina o cenário muda, já que será conveniente deixar de fazer no exterior duas etapas do processo, tanto o enriquecimento quanto a conversão (transformação dos combustível em estado de pasta e gás). Neste contexto, o plano nacional de energia prevê a necessidade de construir outras quatro centrais nucleares até 2030, de maneira que completar a produção de combustível nuclear no País seria ainda mais viável.

Leonardi vê com preocupação esses propósitos, que considera como “o renascimento do programa nuclear brasileiro”, que “surgiu durante a ditadura militar” e que pode dar lugar a “uma corrida pela energia nuclear na América Latina, com um efeito cascata em outros países da região”. Nesse aspecto, o interesse do governo federal “não é apenas energético”, mas de dominar o ciclo do urânio que “pode ser utilizado para fins energéticos ou militares e que não impede no futuro de ser utilizado para outras finalidades”, alertou o especialista. O Brasil assinou vários tratados de não-proliferação de armas nucleares. A Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), bem como os governos democráticos dos últimos anos, reafirmaram os fins pacíficos do programa nuclear.

Um comunicado da Aben assinado por seu presidente, Francisco Rondinelli, comemorou a decisão do conselho de ministros de recomendar a construção de Angra 3, “o que representa um marco estratégico para a ampliação da matriz energética brasileira”. Segundo a Aben, a decisão também é “um reconhecimento da energia nuclear como uma fonte limpa e segura” para reduzir o aquecimento global, bem como “um passo importante na consolidação da tecnologia nuclear, preparando o País para enfrentar o desafio da crise do petróleo, escassez de gás e esgotamento do potencial hidráulico”.

(Por Fabiana Frayssinet, IPS / Envolverde, 10/07/2007)

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