O extrativismo pode ser danoso para a floresta e a população amazônicas, disseram ontem, em Belém (PA), cientistas que participam da 59ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Segundo eles, o aumento da demanda por produtos florestais como frutas e extratos, somado a pouca tecnologia empregada em sua obtenção, tem levado a exploração a níveis insustentáveis.
O principal exemplo é o do açaí. Ele atualmente goza de popularidade no mercado nacional e internacional de alimentos e cosmética. No ano passado, rendeu para o Pará cerca de R$ 6 milhões em exportações.
Porém, o preço médio do açaí subiu mesmo fora da época de colheita (que vai de julho a dezembro), pois as empresas que beneficiam e exportam a fruta compraram o excesso da produção para formar estoques e garantir o fornecimento a seus compradores. “O preço ficou congelado no teto. Com isso, a população mais pobre, que consumia a fruta, não teve mais condição de adquiri-la”, diz o pesquisador Alfredo Homma, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na Amazônia Oriental.
Para responder à procura, os coletores da fruta desenvolveram equipamentos rústicos, mas que aumentam a capacidade de colheita: se antes um trabalhador enchia de 10 a 12 latas por dia com açaí, hoje sua produtividade saltou para 100 latas.
O crescimento do negócio é muitas vezes feito sem cuidados para garantir a sustentabilidade, alerta Samuel Soares de Almeida, do Museu Paraense Emílio Goeldi. “Hoje o açaí é retirado de áreas alagadas e a semente não volta para a área e a renovação da paisagem não acontece”, explica Almeida.
Problemas semelhantes são registrados na exploração de outras espécies, como a priprioca, o cupuaçu e o bacuri. “O modelo de extrativismo (aplicado atualmente) é extremamente frágil e só funciona em um mercado pequeno”, afirma Homma. Ele aposta no uso das terras abandonadas da Amazônia para ordenar a produção.
Segundo o pesquisador, a simples ampliação do número de reservas extrativistas na Amazônia - política aplicada pelo governo federal - não garante que o valor da floresta em pé será maior do que o dela no chão. O produtor pode acabar se voltando a modelos de produção tradicionais, como a pecuária, quando o recurso acabar.
(Por Cristina Amorim,
Estado de S. Paulo, 11/07/2007)