Os pequenos agricultores da Amazônia entraram definitivamente na berlinda. Para pesquisadores reunidos em Belém, essa parcela da população amazônica tem contribuído de forma significativa para o desmatamento da floresta.
"A agricultura familiar hoje é uma grande responsável pelo desmatamento. Existe um endeusamento desse setor, mas eles também são responsáveis por queimadas e derrubadas da floresta", disse à Folha o agrônomo Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental.
O pesquisador, grande conhecedor da região, tem uma estimativa sombria relacionada à presença dos pequenos agricultores no processo de desenvolvimento amazônico.
"Hoje, o grande [produtor] tem mais dificuldade para desmatar por causa da fiscalização", diz. "Essa derrubada residual nas pequenas propriedades vai fazer com que o desmatamento da Amazônia chegue aos 30% de toda a sua área [hoje é de 17,5%]."
A área de floresta já derrubada, de 699.625 km2, equivale à área da região Sul do Brasil.
Para Homma, que coordenou uma mesa-redonda sobre o tema ontem na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), uma estimativa realista é que só depois dos 30% derrubados é que o desmatamento amazônico se estabilizará.
A preocupação com a fiscalização, contudo, não deve vilanizar os pequenos agricultores, diz Homma. "É preciso investir em tecnologia e desenvolver meios de transferi-la para os pequenos produtores", afirma. "Mas esse é um processo muito difícil, porque, normalmente, o nível de instrução deles, por exemplo, é baixo".
O ponto de vista de Homma é compartilhado pelo pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) Carlos Nobre, que voltará a discutir o tema do desenvolvimento amazônico hoje ao lado da geógrafa Bertha Becker, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"É preciso colocar os pequenos produtores dentro do processo, com tecnologia, para que as previsões do Homma não ocorram", afirma Nobre, que falou sobre as mudanças climáticas globais e a necessidade que o Brasil tem de criar meios para se adaptar rapidamente a essa realidade.
Dentro do processo de desenvolvimento amazônico, as reservas extrativistas, tão promovidas nos últimos anos pelo governo, não vão ajudar em nada a proteger a floresta, segundo Homma. "Não sou contra o extrativismo, mas ele não vai resolver", disse.
Segunda natureza
Para o cientista da Embrapa, o mais certo hoje seria o governo investir na reocupação de áreas já degradadas, o que ele chama de "segunda natureza".
"Temos de pensar em implantar atividades produtivas apropriadas nessas zonas [que somam 71 milhões de hectares], o que vai desestimular o avanço sobre a floresta.
Homma tem exemplos de sobra que desaprovam o extrativismo. Tanto o caso das castanheiras do Pará, que estão desaparecendo quase por completo, quanto o açaí, uma coqueluche comercial do momento, estão nessa lista.
"O extrativismo é importante quando o mercado é pequeno. Depois que ele cresce fica complicado", alerta o pesquisador. "Existe uma falsa ilusão de que os produtos florestais não-madeireiros são sustentáveis."
(Por Eduardo Geraque,
Folha de S. Paulo, 11/07/2007)