Tubos usados para produção de petróleo trazem esperança para espécies ameaçadas pela pesca predatória. Cientistas produziram recifes de corais artificiais, que funcionam como berçário para a vida marinha e são solução para a reciclagem dos materiais. No futuro, plataformas de petróleo inteiras serão convertidas em habitat depois de desativadas.
A iniciativa é da Coppe/UFRJ, com financiamento da Petrobras. A empresa instalou os recifes a 6 km da costa de Rio das Ostras, numa área de 20 mil m² e a 30 m de profundidade. Os resultados do projeto, iniciado em 2003, foram apresentados ontem durante o Seminário Internacional sobre Descomissionamento de Plataformas Offshore.
- Os tubos precisam ser substituídos periodicamente e geram um volume muito grande de material inutilizado - conta Segen Estefen, professor do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe. - Os rejeitos ficam armazenados num local chamado Parque de Tubos, em Macaé, que já está superlotado.
Na construção do habitat submarino, os tubos de aço são fixados e unidos por braçadeiras ou parafusos, sem solda. O processo se assemelha à montagem de andaimes.
Antes de virarem recifes, os tubos passam por tratamentos de limpeza de materiais nocivos e são convertidos em estruturas de diferentes formatos, como cubos ou prismas. A maioria é formada por cinco placas que se unem na forma de um tronco de pirâmide.
- A maior das estruturas tem nove metros de largura, como um prédio de três andares deitado. É a única experiência deste tipo de construção de habitat submarino no mundo - celebra Estefen.
O recife, com uma altura média de 5 metros, conta com 27 estruturas de aço e 41 de concreto, fabricadas para comparar o comportamento dos materiais. As estruturas funcionam como barreiras para correntes marinhas, tornando a região mais estável. Nos tubos começam a se desenvolver cracas, caramujos, fitoplâncton e algas, que servem de alimentos para peixes e polvos.
- Cria-se um microsistema sustentável - relata Estefen.
O cherne, peixe com alto valor comercial, se desenvolve rápido no recife. Monitoramentos semestrais registraram exemplares com tamanho médio, o que significa que os filhotes gerados na reprodução permanecem no ambiente.
As estruturas também inibem a devastação da área com a pesca de arrasto, porque prendem as grandes redes lançadas.
- A pesca deve ser proibida na região para não dizimar os filhotes e cortar o ciclo de reprodução. Barcos que arrastam o início da vida marinha são uma das causas da falta grave de peixes no Brasil - lamenta.
O projeto contribui para o aumento da pesca artesanal e ajuda comunidades locais. Quando crescem, os peixes se instalam em uma área próxima ao recife e à costa, o que não exige dos pescadores grandes gastos de combustível e nem embarcações de grande porte.
Os cientistas pretendem transferir plataformas desativadas inteiras para locais próximos da costa e transformá-las em habitats.
- Trazer a estrutura para a terra é um esforço que gera mais problemas que benefícios. Há gastos excessivos de energia, trabalho e dinheiro - conta Estefen.
A próxima cidade a abrigar a experiência será Cabo Frio. As águas mais claras ajudarão no estudo da influência da luminosidade.
(Por Cristine Gerk,
Jornal do Brasil, 11/07/2007)