Mais de 700 mil quilômetros quadrados dos ecossistemas nativos da maior floresta tropical do mundo, a amazônica, sofreram algum tipo de alteração em sua paisagem original, o que representa quase 20% do bioma. Em contrapartida, 36% da região é formada por áreas de preservação, seja pelo domínio das terras indígenas ou pela existência das unidades de conservação.
Os dados foram apresentados pela diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ima Célia Vieira, durante a conferência “Uso da terra, recuperação de áreas degradadas e impactos climáticos na Amazônia”, nesta segunda-feira (9/7), na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Ela também apresentou dados atuais sobre o Centro de Endemismo Belém, área mais antiga de ocupação humana na Amazônia brasileira, com pouco mais de 6 milhões de habitantes e, conseqüentemente, a mais desmatada. A região abriga 147 municípios: 62 no Pará e 85 no Maranhão.
“Mesmo sendo pouco conhecida do ponto de vista biológico, constatamos que essa é uma região que tem apenas 23% de sua cobertura florestal original. De uma lista de 176 espécies vegetais e animais extintas ou ameaçadas de extinção elaborada pelo Museu Goeldi, 30 espécies estão nessa área, que atualmente conta com 41 unidades de conservação. Essa é a principal conseqüência da ocupação e uso desordenado da região”, destacou.
Com o intuito de recuperar a biodiversidade e a capacidade produtiva de toda a região amazônica, a diretora do Museu Goeldi anunciou a criação de uma política pública de serviços ambientais, que está sendo proposta em parceria por representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri), no âmbito do Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural (Proambiente).
Com base em levantamento de dados e resultados de estudos sobre uso do solo, coordenados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e por outras instituições, os objetivos são promover o uso racional da terra, apoiar o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, como os agroflorestais e a pesca artesanal, e remunerar as comunidades da Amazônia que consigam manter a cobertura vegetal da floresta.
“O Proambiente existe há alguns anos e passa agora por uma fase de reformulação. Essa nova política pública, em fase de elaboração, prevê a criação de um fundo de remuneração pelos serviços ambientais prestados. Isso significa que as famílias que conseguirem manter a floresta em pé deverão ser remuneradas com dinheiro”, disse Ima Célia à Agência FAPESP.
“Essa é uma boa alternativa de oferecer renda a comunidades da região, que abriga mais de 20 milhões de habitantes, e, ao mesmo tempo, preservar a biodiversidade da floresta, representada por mais de 40 mil espécies de plantas, 2,5 mil espécies de vertebrados terrestres e 3 mil espécies de peixes”, destacou a diretora do Museu Goeldi. Cerca de 63,7 milhões de bovinos, 32,6% do rebanho nacional, também vivem na região.
(Por Thiago Romero
, Agência FAPESP, 10/07/2007)