Apesar de comemorar a licença das usinas do Rio Madeira, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, lamentou a falta de definição sobre o valor da compensação ambiental da obra. 'Isso pode gerar um risco para o investidor', disse. Normalmente, o órgão licenciador fixa um porcentual sobre o custo das obras para ser destinado a compensações ambientais. 'Teremos de sentar e conversar a respeito com o Ibama.'
Tolmasquim disse ainda que não espera que os projetos enfrentem grandes dificuldades na Justiça, como vem ocorrendo com a hidrelétrica de Estreito, no Tocantins. A usina já tem a licença prévia, mas foi alvo de duas liminares judiciais que atrapalham o início das obras.
Trata-se de um dos maiores empreendimentos em curso no setor, com mais de mil megawatt (MW) de potência. 'As usinas do Madeira não estão imunes a isso, mas são projetos mais fortes, pois o processo de licenciamento foi bem criterioso.'
As usinas devem entrar em operação a partir do fim de 2012 e, cumpridos os prazos previstos pelo governo, a tendência é de que o preço da energia sofra redução substancial no período. Além dos 6,4 mil MW do Madeira, está previsto o início das operações de Angra 3, com 1,3 mil MW, o que representa um dos maiores blocos de energia a entrar em operação em curto espaço de tempo. 'Quando um bloco de energia desse tamanho entra, a tendência é de redução no custo marginal de operação do sistema elétrico.'
Atualmente, há grande temor no mercado com o preço da energia, uma vez que, entre o fim desta década e o início da próxima, a tendência é de que o sistema demande fontes mais caras de energia, como a térmica, por falta de grandes projetos hidrelétricos. Tolmasquim afirmou que o abastecimento nesse período, porém, será garantido com leilões de ajuste da oferta, que terão outras fontes de energia.
Para o professor do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ Nivalde de Castro, o licenciamento do Rio Madeira representa um grande passo rumo ao imenso potencial hidrelétrico a explorar na Amazônia.
'Sinaliza o destravamento da questão ambiental, o avanço da fronteira elétrica para a região Norte.' Segundo ele, há um potencial de quase 180 mil MW nos rios da região, que não vinham sendo explorados.
(Por Nicola Pamplona,
O Estado de S.Paulo, 10/07/2007)