O uso de biodiesel para veículos comerciais leves foi aprovado por um dos testes oficiais realizados pelo Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel) da USP de Ribeirão Preto. Os resultados, validados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), mostram que o biocombustível misturado ao diesel comum reduz emissões de gases poluentes e não compromete os componentes de caminhões e vans.
Durante dois anos, 150 caminhões e 10 vans de uma engarrafadora de bebidas de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), rodaram com biodiesel de soja e mamona do tipo B5 (5% de biocombustível adicionado ao diesel comum). “
Os veículos percorreram um total de 7 milhões de quilômetros com biodiesel”, conta o professor Miguel Dabdoub, coordenador do Ladetel e professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
Além de reduzir as emissões dos gases poluentes, em alguns casos o biodiesel permitiu uma ligeira diminuição no consumo de combustível. “Tecnicamente pode se dizer que em misturas de até 40% ocorre uma leve redução”, explica Dabdoub. “A durabilidade das peças em contato com o combustível aumentou e houve uma leve diminuição da carbonização no sistema de injeção, porém isso só é válido usando biodiesel de boa qualidade”.
MisturasO Ladetel também testou biodiesel B5 e B20 de soja e B5 de mamona em tratores de uma usina de cana de açúcar, durante 25 mil horas em condições normais de trabalho. “Os testes foram bem-sucedidos e os resultados serão enviados para a ANP e governo federal”, diz o professor. “As experiências com veículos de passeio estão na segunda etapa, iniciada em outubro do ano passado, e os carros deverão rodar 600 mil Km, usando desta vez biodiesel B30 de dendê, B30 de soja e em outros veiculos B30 de uma mistura formada por soja (75%) e mamona (25%)”.
Dabdoub aponta que será necessário testar e validar misturas maiores em caminhões e ônibus. “As indústrias do setor já começaram a discutir a necessidade de testar essas misturas maiores, por isso o Ladetel está organizando os estudos oficiais com a mistura B20”, afirma. “Porém, é preciso cobrir os gastos com a diferença de custos com o combustível, que ainda é mais caro do que o diesel mineral, fato que afugenta muitos frotistas a colaborar com o programa”.
Segundo o professor, as matérias primas mais viáveis economicamente para a produção do biodiesel são a soja e a palma africana (dendê). “O Brasil produz entre 200 e 250 milhões de litros de biodiesel, mas precisará produzir 850 milhões para atender a necessidade dos 2% adicionados ao diesel comum, estabelecida por lei, a partir de 2008”, alerta.
“O governo deve definir uma política de longo prazo para a compra do produto e acenar aos produtores com a continuidade dos leilões da ANP por pelo menos cinco a sete anos, período que garantiria o retorno dos investimentos, em particular na área agrícola”. Os testes do Ladetel com veículos comerciais foram realizados em parceria com a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), fabricantes de autopeças e distribuidoras de combustíveis.
Mais informações: (0XX16) 3602-3734, no Ladetel
(Por Júlio Bernardes /
Agência USP, 10/07/2007)