Nem tanto, diz. Molion
sustenta que está em marcha um processo de resfriamento do planeta.
"Estamos entrando numa nova era glacial, o que para o Brasil poderá ser
pior", pontifica. Para Molion, por trás da propagação catastrófica do
aquecimento global há um movimento dos países ricos para frear o
desenvolvimento dos emergentes. O professor ainda faz uma reclamação: diz que cientistas
contrários à tese estão escanteados pelas fontes de financiamento de pesquisa.
ISTOÉ - Com base em que o
sr. diz que não há aquecimento global? Molion - É difícil dizer que o
aquecimento é global. O Hemisfério Sul é diferente do Hemisfério Norte, e a
partir disso é complicado pegar uma temperatura e falar em temperatura média
global. Os dados dos 44 Estados contíguos dos EUA, que têm uma rede de medição
bem mantida, mostram que nas décadas de 30 e 40 as temperaturas foram mais
elevadas que agora. A maior divergência está no fato de quererem imputar esse
aquecimento às atividades humanas, particularmente à queima de combustíveis
fósseis, como petróleo e carvão, e à agricultura, atrás da agropecuária, que
libera metano. Quando a gente olha a série temporal de 150 anos usada pelos
defensores da tese do aquecimento, vê claramente que houve um período, entre
1925 e 1946, em que a temperatura média global sofreu um aumento de cerca de
0,4 grau centígrado. Aí a pergunta é: esse aquecimento foi devido ao CO2?
Como, se nessa época o
homem liberava para a atmosfera menos de 10% do que libera hoje? Depois, no
pós-guerra, quando a atividade industrial aumentou, e o consumo de petróleo
também, houve uma queda nas temperaturas.
ISTOÉ - Qual seria a
origem das variações de temperatura?
Molion - Há dez anos,
descobriu-se que o Oceano Pacífico tem um modo muito singular na variação da
sua temperatura.
Me parece lógico que o
Pacífico interfira no clima global. Primeiro, a atmosfera terrestre é aquecida
por debaixo, ou seja, temos temperaturas mais altas aqui na superfície e à
medida que você sobe a temperatura vai caindo - na altura em que voa um jato
comercial, por exemplo, a temperatura externa chega a 45 ou 50 graus abaixo de
zero. Ora, o Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre. Juntando isso
tudo, claro está que, se houver uma variação na temperatura da superfície do
Pacífico, vai afetar o clima.
ISTOÉ - O IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU) está errado?
Molion - O painel não leva
em consideração todos os dados. Outra coisa que incomoda bastante, e que o Al
Gore [exvice- presidente dos EUA e estrela do documentário Uma verdade
inconveniente, sobre mudanças no clima] usa muito, é a concentração de CO2. O
IPCC diz claramente que a concentração atingida em 2005, de 339 partes por
milhão, ou ppm, foi a maior dos últimos 650 mil anos. Isso é uma coisa
ridícula. Eles usam uma série iniciada em 1957 e não fazem menção a medições de
concentração de gás carbônico anteriores. É como se nunca ninguém tivesse se
preocupado com isso.
O aumento de CO2 não é um
fenômeno novo. Nos últimos 150 anos, já chegou a 550, 600 ppm.
ISTOÉ - Esses temores são
cíclicos?
Molion - Eu tenho fotos da
capa da Time em 1945 que dizia: "O mundo está fervendo." Depois, em
1947, as manchetes diziam que estávamos indo para uma nova era glacial. Agora,
de novo se fala
ISTOÉ - Por que é pior?
Molion - Porque quando a
atmosfera fica fria ela tem menor capacidade de reter umidade e aí chove menos.
Eu gostaria que aquecesse realmente porque, durante o período quente, os totais
pluviométricos foram maiores, enquanto de
ISTOÉ - No que isso pode
interferir na vida do brasileiro?
Molion - As conseqüências
para o Brasil são drásticas. O Sul e o Sudeste devem sofrer uma redução de
chuvas da ordem de 10% a 20%, dependendo da região. Mas vai ter invernos em que
a freqüência de massas de ar polar vai ser maior, provocando uma freqüência
maior de geadas. A Amazônia vai ter uma redução de chuvas e, principalmente, a
Amazônia oriental e o sul da Amazônia vão ter uma freqüência maior de seca,
como foi a de 2005. O Nordeste vai sofrer redução de chuva. O que mais me
preocupa é que, do ponto de vista da agricultura, as regiões sul do Maranhão,
leste e sudeste do Pará, Tocantins e Piauí são as que apresentam sinais mais
fortes. Essas regiões preocupam porque são a fronteira de expansão da soja
brasileira. A precipitação vai reduzir e certamente vai haver redução de
produtividade. Infelizmente, para o Brasil é pior do que seria se houvesse o aquecimento.
ISTOÉ - A quem
interessaria o discurso do "aquecimento"?
Molion - Quando eu digo
que muito provavelmente estamos num processo de resfriamento, eu faço por meio
de dados. O IPCC, o nome já diz, é constituído de pessoas que são designadas
por seus governos. Os representantes do G-7 não vão aleatoriamente. Vão
defender os interesses de seus governos. No momento em que começa uma pressão
desse tipo, eu digo que já vi esse filme antes, na época do discurso da
destruição da camada de ozônio pelos CFCs, os compostos de clorofluorcarbonos.
Os CFCs tinham perdido o direito de patente e haviam se tornado domínio
público. Aí inventaram a história de que esses compostos estavam destruindo a
camada de ozônio. Começou exatamente com a mesma fórmula de agora. Em 1987, sob
liderança da Margaret Thatcher, fizeram uma reunião em Montreal de onde saiu um
protocolo que obrigava os países subdesenvolvidos a eliminar os CFCs. O Brasil
assinou. Depois, ficamos sabendo que assinou porque foi uma das condições
impostas pelo FMI para renovar a dívida externa brasileira. É claro que o
interesse por trás disso certamente não é conservacionista.
ISTOÉ - Mas reduzir a
emissão de CFCs não foi uma medida importante?
Molion - O Al Gore no
filme dele diz "nós resolvemos um problema muito crucial que foi a
destruição da camada de ozônio". Como resolveram, se cientistas da época
diziam que a camada de ozônio só se recuperaria depois de 2100?
ISTOÉ - O sr. também vê
interesses econômicos por trás do diagnóstico do aquecimento global?
Molion - É provável que
existam interesses econômicos por detrás disso, uma vez que os países que
dominam o IPCC são os mesmos países que já saíram beneficiados lá atrás.
ISTOÉ - Não é teoria
conspiratória concluir que há uma tentativa de frear o desenvolvimento dos
países emergentes?
Molion - O que eu sei é
que não há bases sólidas para afirmar que o homem seja responsável por esse
aquecimento que, na minha opinião, já acabou. Em 1798, Thomas Malthus, inglês,
defendeu que a população dos países pobres, à medida que crescesse, iria querer
um nível de desenvolvimento humano mais adequado e iria concorrer pelos
recursos naturais existentes. É possível que a velha teoria malthusiana esteja
sendo ressuscitada e sendo imposta através do aquecimento global, porque agora
querem que nós reduzamos o nosso consumo de petróleo, enquanto a sociedade
americana, sozinha, consome um terço do que é produzido no mundo.
ISTOÉ - Para aceitar a
tese do sr., é preciso admitir que há desonestidade dos cientistas que
chancelam o diagnóstico do aquecimento global...
Molion - Eu digo que
cientistas são honestos, mas hoje tem muito mais dinheiro nas pesquisas sobre
clima para quem é favorável ao aquecimento global. Dinheiro que vem dos
governos, que arrecadam impostos das indústrias que têm interesse no assunto.
Muitos cientistas se prostituem, se vendem para ter os seus projetos aprovados.
Dançam a mesma música que o IPCC toca.
ISTOÉ - O sr. se considera
prejudicado por defender a linha oposta? Molion - Na Eco 92, eu debati com o
Mario Molina, que foi quem criou a hipótese de que os clorofluorcarbonos
estariam destruindo o ozônio. Ele, em 1995, virou prêmio Nobel de Química. E o
professor Molion ficou na geladeira. De
ISTOÉ - O cenário que o
sr. traça inclui ou exclui o temor de cidades litorâneas serem tomadas pelo
aumento do nível dos oceanos?
Molion - Também nesse aspecto,
o que o IPCC diz não é verdade. É possível que, com o novo ciclo de
resfriamento, o gelo da Groenlândia possa aumentar e pode ser até que haja uma
ligeira diminuição do nível do mar.
ISTOÉ - Pela sua tese,
seria o começo de uma nova era glacial?
Molion - Como já faz 15
mil anos que a última Era Glacial terminou, e os períodos interglaciais
normalmente são de 12 mil anos, é provável que nós já estejamos dentro de uma
nova era glacial. Obviamente a temperatura não cai linearmente, mas a tendência
de longo prazo certamente é decrescer, o que é mau para o homem. Eu gostaria
muito que houvesse realmente um aquecimento global, mas na realidade os dados
nos mostram que, infelizmente, estamos caminhando para um resfriamento. Mas não
precisa perder o sono, porque vai demorar uns 100 mil anos para chegar à
temperatura mínima. E quem sabe, até lá, a gente não encontre as soluções para
a humanidade.
(Por Rodrigo Rangel, Isto É,
09/07/2007)