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ilhas galápagos
2007-07-11


Cientistas comemoram uma descoberta no arquipélago equatoriano de Galápagos que o pai da teoria da evolução das espécies, Charles Darwin, nem sequer sonhou: estranhos animais que vivem em total escuridão ao redor de vulcões submarinos ativos. Há 30 anos, os pesquisadores detectaram a primeira “chaminé hidrotermal”, que aquece a água a elevadíssimas temperaturas, 2.500 metros abaixo da superfície do mar, rodeada de sua própria e única comunidade de flora e fauna.

A simples definição de “vida” sobre a Terra mudou para sempre ao se descobrir o florescimento destes organismos sem a luz do sul e, em conseqüência, sem fotossíntese. Assim, surgiram novos paradigmas sobre a possibilidade de vida no universo. Por fim, se um diminuto camarão pode viver em total escuridão, sob uma pressão de toneladas em uma sopa tóxica e fervente pela presença de uma fonte de calor de 350 graus, por que não haveria vida em algum planetóide remoto com condições tão duras?

“Foi o que de maior ocorreu à biologia no século passado”, recorda Fred Grassle, da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, que em 1977 organizou a primeira expedição de biólogos às então recém-descobertas chaminés hidrotermais no oceano Pacífico, a cerca de 350 quilômetros das ilhas Galápagos. Grassle passou muitas horas nas profundezas em diminutos submergíveis, como o famoso “Alvin”, com o qual fez a descoberta.

“Na época se pensava que as profundezas do oceano estavam privadas de vida, ou que a pouca que havia ali dependia do alimento que caía de cima”, disse o cientista em um pequeno auditório com numerosos estudantes de Puerto Ayora, em uma das comemorações. Grassle lhes mostrou velhos slides de cientistas se preparando para explorar um ambiente tão exótico e perigoso quanto o espaço exterior. Embora as crianças estejam conscientes de que as Galápagos são famosas por sua flora e fauna únicas, as profundezas do mar que a cerca são um reino tão fantástico quanto a Lua. “Sabemos mais sobre a superfície lunar do que a respeito do fundo do mar”, costuma dizer o cientista.

Localizada a mil quilômetros da costa oeste do Equador, Galápagos também é uma região vulcânica muito ativa, no alto de um ponto-chave de magma da bacia tectônica de Nazca. Em 1977, o “Alvim” seguiu um rastro de almejas brancas (moluscos bivalvos) até uma pequena série de fissuras nas rochas, emitindo uma espécie de água nebulosa, extremamente quente, chamada “black smokers”. Embora seja suficientemente quente para derreter a maioria dos metais, a água não ferve por causa da tremenda pressão nessas profundidades. Cobrindo uma área muito maior do que um campo de beisebol, pensou-se que fosse a única do planeta, disse Grassle à IPS.

Uma série de experimentos de complexa realização acabou demonstrando que as surpreendentes criaturas (gusanos-tubo, camarões e outros) que vivem ao lado destas aberturas usam a energia química que delas emana para sobreviverem. O componente-chave neste sistema ecológico único é a bactéria quimiosintética que comumente vive em simbiose com os animais residentes, como as almejas. Estas bactérias especializadas oxidam o tóxico sulfuro de hidrogênio que sai das fissuras proporcionando nutriente a animais que estão em uma posição superior na cadeia alimentar.

E no caso dos vermes-tubo, que não têm boca nem estômago, a bactéria reside em seu interior, fornecendo os compostos orgânicos necessários para mudança de um cômodo lugar. Estas bactérias amantes do enxofre tomam o lugar da fotossíntese, que gera vida no resto do planeta, explicou Grassle. São antigas, e alguns cientistas especulam que podem ter sido as primeiras formas de vida sobre a Terra. Estas descobertas desataram um auge internacional em matéria de pesquisas das profundezas do mar. Cerca de cem destas aberturas foram encontradas até agora nos oceanos Atlântico e Pacífico.

Estão situadas ao longo da cadeia montanhosa de 64 mil quilômetros de extensão, que ziguezagueia sobre as bacias oceânicas do planeta, explicou Christopher German, co-presidente da ONG InterRidge e da organização Biogeográfica da Quimiosíntese dos Ecossistemas de Águas Profundas (ChEss, em inglês). A cadeia montanhosa marca a área onde as placas tectônicas da Terra se separaram e uma nova crosta se formou da lava quente que surgiu, disse German à IPS. “Em qualquer lugar que observarmos ao longo da cadeia encontramos aberturas, que abrigam diferentes espécies animais em diferentes regiões do oceano”, acrescentou.

Cerca de 550 espécies foram descobertas vivendo em condições de extrema pressão e temperatura e novas espécies são encontradas à razão de duas mil ao mês, disse Ron Tyler, co-presidente da ChEss, um dos 14 programas do Censo da Vida Marinha, um projeto internacional para documentar a vida nos oceanos até 2010. o estudo dessas aberturas dominou o campo da biologia das profundezas do mar durante os últimos 30 anos, acrescentou. As futuras pesquisas se focarão mais nos minerais do que na biologia. Pelo menos duas companhias de mineração estão explorando essas aberturas por causa de sua abundância em ouro, cobre e outros minerais valiosos. Os avanços tecnológicos permitem a exploração do fundo marinho, embora tais operações sejam muito complexas e caras.

O impacto ambiental nas espécies que habitam estas aberturas pode ser catastrófico, tanto para as que se encontram no local quanto para aquelas “corrente abaixo” devido aos sedimentos que serão removidos. A exploração mineira poderia começar em 2009, disse a diretora do Laboratório Marinho da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, Cindy Van Dover. Os cientistas deverão tomar parte ativa no desenvolvimento de normas para as empresas, que incluam uma completa avaliação do impacto ambiental das áreas de mineração, alertou.

A verdadeira riqueza das “chaminés hidrotermais” é sua enorme biodiversidade, disse Grassle. “Elas nos fazem abrir os olhos em relação aos lugares e às condições sob as quais a vida pode prosperar”, afirmou. “O que aprendi nos últimos 30 anos é que os pequenos organismos como as bactérias são escassamente apreciados”, acrescentou. O fato de está descoberta ter ocorrido onde Darwin conseguiu um dos maiores avanços científicos da história “he uma grata coincidência”, acrescentou, com um pequeno sorriso.
(Por Stephen Leahy, IPS, 09/07/2007)



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