Pelo Iraque passam dois dos maiores rios do Oriente Médio, mas isso parece não ser suficiente para atender as necessidades de água da população. A maior parte da população vive próxima dos rios Eufrates e Tigre, e de muitos de seus afluentes. Os cursos fluviais se juntam na cidade de Basra, onde formam a bacia de Shat al-Arab. Este país também tem recursos hídricos subterrâneos de qualidade muito boa. Quase um quinto do território é bom para cultivo. “A água que temos no Iraque é mais do que suficiente para nossas necessidades”, disse à IPS o engenheiro Adil Mahmood, responsável da Autoridade de Irrigação. “Na verdade, podemos exportá-la aos países vizinhos, como Arábia Saudita, Jordânia e Kuwait, que manejam a escassez desse recurso, com um bom planejamento”, acrescentou.
Entretanto, os agricultores têm dificuldades para irrigar suas terras. Há graves carências energéticas para fazer funcionar as bombas e de combustível para os geradores. “A água existe e os rios não secaram, mas o problema é como a levamos até nossas moribundas plantações”, disse à IPS Jabbar Ahmed, agricultor de Latifiya, ao sul de 'Bagdá. “É uma vergonha que nós, nossos animais e nossas plantas morramos de sede em um país com esses dois rios gigantescos”, disse indignado.
Agora o Iraque deve importar grande parte dos produtos agrícolas que consome devido à falta de água para irrigação. “Antes, vendia 50 toneladas de tomates por ano, mas agora vou ao mercado comprar o que consumo”, disse à IPS Numan Majid, da região próxima à cidade de Abu Ghraib, a oeste da capital iraquiana “Procurei ignorar a situação, mas foi em vão. Não se pode plantar no Iraque, menos ainda com a escassez de água existente”. Alguns iraquianos falam da época em que esta região ensinava ao mundo como utilizar esse recurso vital.
“Os sumérios eram mais avançados do que somos agora”, disse à IPS Mahmood Shakir, historiador da Universidade de 'Bagdá. “Há mais de sete mil anos, os sumérios construíram canais para irrigar suas plantações de trigo e o rei da Babilônia, Nabucodonosor, a canalizou para seus grandes Jardins Suspensos, a ponto de este se converter em uma das sete maravilhas do mundo”. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, o Iraque possui 438.320 quilômetros quadrados e 924 quilômetros de cursos fluviais. O país apresenta a topografia de uma bacia entre o Tigre e o Eufrates. A região da Mesopotâmia, que inclui o atual território iraquiano, literalmente significa terra entre dois rios.
Mas agora a história desses dois rios é outra. “As autoridades não utilizam este presente do céu de forma adequada. Primeiro pelas sanções da ONU e depois pelo caos que se seguiu à ocupação norte-americana”, depois da invasão de março de 2003, disse Jabbar Ahmed. A companhia Bechtel, dos Estados Unidos, que tem estreitos vínculos com o governo do presidente George W. Bush, estava encarregada da reconstrução da infra-estrutura elétrica e de água no país. Mas não fez quase nada.
Agora, cada lar iraquiano tem, em média, duas horas de eletricidade por dia. Aproximadamente 70% da população não tem acesso a água potável e apenas 19% contam com saneamento, segundo a Organização Mundial da Saúde. O desemprego supera os 60% da população economicamente ativa. Muitos profissionais iraquianos responsabilizam pela situação a ocupação e as companhias que atraiu, como a Bechtel. Nesse contexto, 'Bagdá está financiando um estudo sobre melhores práticas agrícolas.
“O governo gasta grandes quantidades de dinheiro em pesquisas agrícolas e em matéria de irrigação”, disse à IPS Muath Sadiq, um dos pesquisadores. “Creio que, simplesmente, é mais uma forma de roubar dinheiro do orçamento nacional”. A pesquisa não tem muito valor porque é claro que o verdadeiro problema “é a escassez de eletricidade e de combustível. Para ser mais preciso: a razão é a ocupação e os governos corruptos que se instalaram no país”, afirmou Sadiq.
(Por Ali Al-Fadhily, IPS, 10/07/2007)