Investir em projetos ambientais para negociar créditos no mercado de carbono global não é mais uma realidade apenas para grandes companhias. O movimento começa a ganhar espaço também entre os pequenos empresários. Em São Paulo, algumas indústrias de menor porte já desenvolvem projetos para gerar créditos de carbono. Assim como as grandes, elas querem investir e lucrar com ações de responsabilidade ambiental.
O empresário José Fredi, dono de uma pequena cerâmica em Presidente Epitácio (SP), tinha uma idéia vaga do que era crédito de carbono quando resolveu trocar a fonte energética dos fornos da sua indústria, em 2004. A madeira nativa que era queimada ali foi substituída por resíduos florestais. À época, a preocupação era apenas reduzir custos - que caíram 20%.
Mas, no início do ano, ele percebeu que a mudança poderia justificar a criação de um Mecanismo de Desenvolvimento de Limpo (MDL) - projetos que reduzem a emissão de gases causadores do efeito estufa e geram créditos que podem ser negociados no mercado internacional. Cada tonelada do gás que deixa de ser emitido na atmosfera gera um crédito de carbono, vendido a cerca de 10.
'Sempre ouvi falar disso, mas achava que era só para os grandes', diz Fredi. Depois de assistir a uma palestra no Sebrae sobre o assunto, ele procurou uma consultoria especializada, que verificou que o projeto tinha potencial para gerar cerca de 16 mil créditos de carbono (que equivalem a aproximadamente 160 mil). 'Além de financiar o investimento que fiz na mudança, esse valor poderá ser revertido em outras melhorias para a empresa.' Atualmente, o projeto está pronto para ser enviado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que o aprova e dá início à negociação dos créditos nas bolsas de carbono internacionais.
'O interesse de pequenos empreendimentos nos projetos de carbono tem crescido e muitos têm potencial para gerar crédito, mas não sabem como', diz o diretor do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis. Esse foi um dos motivos pelo qual a entidade lançou, há um mês, um programa para orientar pequenas e médias indústrias que querem criar suas propostas. Em uma parceria com a consultoria Brazilian Carbon Bureau (BCB), os empresários recebem informações gratuitas sobre como elaborar, captar recursos e negociar os projetos.
Segundo o diretor da BCB, Júlio Tocalino, desde o início de junho cerca de 120 indústrias de pequeno porte procuraram as entidades. 'As pequenas companhias ainda não têm acesso às informações sobre créditos de carbono e o Brasil perde com isso.' A maior participação das pequenas aumentaria a presença brasileira no mercado mundial. Hoje, apenas 4% do total negociado se refere a projetos nacionais.
Mas o que ganha a empresa que resolve apostar nesse mercado complexo? Além do ganho de imagem e redução de custos, as pequenas saem na frente por outros motivos. Um deles é a menor burocracia com que conseguem implantar mudanças, como alterações da fonte energética. 'Esses processos são mais trabalhosos para as grandes empresas', diz Reis.
Um dos maiores entraves para as pequenas aderirem a esse comércio ainda é o custo para elaborar um projeto - que varia de R$ 10 mil a R$ 100 mil. Por isso, o ideal é que elas trabalhem em conjunto. 'Juntas, podem diluir os custos', diz Marco Antônio Fujihara, consultor da Key Associados, especializada em sustentabilidade.
(Por Marianna Aragão,
Estado de S. Paulo, 10/07/2007)