Uma nova metodologia de análise de amostras de mel pode ser utilizada no controle de qualidade do produto para consumo humano, transformando-o também em um bioindicador da contaminação do meio ambiente por pesticidas agrícolas em uma área de até 7 quilômetros quadrados. A criação e a validação da técnica são os principais resultados de uma pesquisa que durou seis anos e foi realizada em uma área de preservação ambiental cercada por campos agrícolas na cidade de Bauru, interior paulista, por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade de São Paulo (USP).
A região, conhecida como Reserva Campo Novo Vargem Limpa, tem cerca de 3 milhões de metros quadrados e 35 colméias de abelhas domésticas (Apis mellifera). O trabalho, com resultados publicados na Revista Química Nova, apresenta um método capaz de detectar e quantificar pesticidas presentes no mel.
Sandra Regina Rissato, uma das coordenadoras do estudo e professora do Departamento de Química da Unesp, explica que as abelhas realizam a tarefa vital de polinização das colheitas agrícolas nas áreas que cercam seu hábitat, recolhendo néctar, água e pólen das flores. “Enquanto isso, insetos interceptam microrganismos e produtos químicos que ficam retidos em seus pêlos superficiais e são inalados e armazenados no aparelho respiratório, fazendo com que o mel seja produzido com algum nível, ainda que pequeno, de contaminação”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP.
Durante o período de observação das colméias, de 1999 a 2004, os autores do estudo encontraram 48 tipos diferentes de pesticidas nas amostras de mel, de quatro classes distintas: organoalogenados, organofosforados, organonitrogenados e piretróides. Os pesticidas no mel são extraídos com o auxílio de solventes orgânicos após a diluição do mel em água. “Por meio de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas, foi possível quantificar a concentração dos pesticidas nas amostras. Todos os 48 tipos de pesticidas identificados têm algum grau de toxicidade e podem ser prejudiciais à saúde”, afirmou Sandra.
Segundo ela, altas concentrações de malation – pesticida da classe dos organofosforados usado no combate à dengue – foram detectadas em algumas amostras de mel, o que pode estar relacionado à intensa aplicação da substância para o controle do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, durante o período estudado.
“Apesar de a metodologia não apresentar o nível de contaminação do ar, o mel se mostrou um precioso bioindicador da existência desse tipo de poluente no meio ambiente”, disse Sandra. O método pode ser aplicado em qualquer região que tenha pesticidas agrícolas como fontes de poluição.
Segundo dados da Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas Melíficas Européias (Apacame), existiam no Brasil, em 2003, cerca de 80 mil apicultores e 1,6 milhão de colméias habitadas por abelhas, que produziam cerca de 35 mil toneladas de mel por ano.
O trabalho, também coordenado pelo chefe do Departamento de Química da Unesp, Mário Ségio Galhiane, foi financiado pela Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e FAPESP. Para ler o artigo Método multirresíduo para monitoramento de contaminação ambiental de pesticidas usando mel como bioindicador, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme),
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(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 06/07/2007)