O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem (09/07) que não vai aceitar o "cartel dos poderosos contra o desenvolvimento do Brasil". Num recado aos grandes produtores de petróleo, como a Venezuela, Lula rebateu às críticas sobre os supostos riscos que serão provocados pelo avanço da produção brasileira de álcool e biodiesel.
"Esse é um debate que o Brasil não tem de ter medo. Nós não vamos aceitar, não vamos aceitar outra vez o cartel dos poderosos do mundo tentando impedir que o Brasil se desenvolva, tentando impedir que o Brasil se transforme numa grande nação", disse ele para o programa de rádio "Café com o Presidente".
O presidente afirmou que o Brasil "não pode abrir mão de defender a sua matriz energética revolucionária já comprovada há 30 anos, que é o etanol e agora o biodiesel". "Temos adversários que vão levantar todo e qualquer tipo de calúnia contra a qualidade do etanol, contra a qualidade do biodiesel. Nossa tecnologia é importante porque não é apenas a produção de um novo combustível, é a geração de empregos, é a distribuição de renda sobretudo nos países mais pobres do planeta. É bem possível que os nossos adversários continuem levantando coisas contra o Brasil e nós temos de estar preparados."
Lula chamou de "descabidas" as críticas de que a produção de álcool no Brasil vai reduzir a produção de alimentos. "É preciso imaginar que o ser humano seria irracional. A primeira energia que o ser humano precisa é a sua própria. Ou seja, é se alimentar para poder ter força, para poder produzir a outra energia. Acho uma coisa totalmente descabida."
O presidente também rebateu o argumento daqueles que dizem que a produção de biocombustível vai invadir a Amazônia. "Portugal chegou aqui em 1500, há 470 anos introduziu a cana no Brasil e a cana não chegou na Amazônia por uma razão simples. Mesmo quando não se tinha uma visão de preservação que a humanidade tem agora, os portugueses descobriram há muito tempo que na Amazônia não é lugar de plantar cana porque a temperatura não é propícia para isso."
Lula elogiou ainda os resultados da cúpula Brasil-União Européia, realizada na semana passada em Portugal. "O Brasil mudou de patamar na sua relação com a União Européia e o interesse é a questão dos biocombustíveis. Estamos apresentando ao mundo uma alternativa para combater a emissão de gases que causam o efeito estufa no planeta."
Rodada DohaLula disse ainda que há chances do Brasil retomar as negociações sobre o comércio agrícola na Rodada Doha. "Há chances. Para isso é importante que o povo brasileiro entenda que nós queremos que os americanos reduzam o subsídio que eles dão para os seus agricultores."
Ele também criticou os subsídios dados pelos países europeus nessa área. "A União Européia, além de não mexer nada nos coeficientes da agricultura, ela quer que nós baixemos o coeficiente dos produtos industriais."
"E o que eles querem? Que a gente abra nossa indústria para eles e eles não abrem a agricultura para os países do terceiro mundo. Também não dá! Não é uma questão de orgulho não, é uma questão de Justiça."
O presidente afirmou que para as negociações serem retomadas os países pobres precisam ganhar alguma coisa. "Nesse acordo de Doha, os países pobres precisam sair ganhando alguma coisa. Os ricos já ganharam demais no século 20."
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Folha Online, 09/07/2007)