O País poderá produzir, em 2012, quase 24 mil megawatts de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar, aproveitando o que restar de uma produção de 730 milhões de toneladas de cana prevista para aquela safra. O número corresponde ao dobro do gerado pela hidrelétrica de Itaipu, informou o diretor de Energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), Luiz Gonzaga Bertelli.
Segundo ele, é preciso realizar investimentos na área para aproveitar este potencial energético, hoje utilizado por caldeiras de usinas que geram vapor para movimentar turbinas para a produção de álcool e açúcar.
Bertelli está preocupado com o que pode ocorrer em 2012, principalmente após analisar o que aconteceu em 2001. Naquele ano, a falta de planejamento governamental e a ausência de chuvas obrigaram a adoção de um programa de racionamento energético, que afetou o crescimento do País.
"O ritmo de crescimento do PIB de 4% em 2000 (4,3% segundo o IBGE) caiu para 1% (1,3%, ainda de acordo com o IBGE) em 2001. Há uma preocupação geral que isto venha a se repetir nos próximos anos, afetando os novos investimentos das empresas", disse o diretor de Energia da Fiesp.
Segundo as análises dos especialistas, salientou Bertelli, não existe risco de um apagão acontecer tão cedo, por causa do "excepcional volume de chuvas neste ano". Ele salientou, entretanto, que diante das dificuldades encontradas no licenciamento ambiental das usinas do Rio Madeira, em Rondônia, dificilmente esses complexos hídricos serão concluídos no período estimado.
Daí sua defesa do aproveitamento da energia da biomassa, no caso o bagaço da cana-de-açúcar, como solução para evitar um apagão no início da próxima década. Em 2007/08, o País terá a maior safra de cana-de-açúcar da história, com uma produção de 528 milhões de toneladas, 11% maior do que a safra anterior".
Bertelli também destacou que há poucos entraves para a produção de energia a partir do bagaço da cana, já que a geração de bioeletricidade com o emprego do bagaço é limpa, não traz prejuízos ambientais ou à sociedade. Além disso, ele citou um estudo da Fiesp que concluiu que o custo operacional de longo prazo da eletricidade do bagaço é muito baixo e compensará, adequadamente, a amortização de um investimento inicial para inserir a biomassa do bagaço no planejamento energético.
Maior safraComo conhecedor do setor de açúcar e álcool do País, ele aponta como solução viável para evitar um apagão no início da próxima década, seria o aproveitamento da energia da biomassa, no caso o bagaço da cana-de-açúcar. No biênio 2007/08, o País terá a maior safra de cana-de-açúcar da história, com uma produção de 528 milhões de toneladas, 11% maior do que a safra anterior".
Lembrou que no passado, o bagaço não tinha utilização nas usinas sucroalcooleiras, sendo apenas usado para o consumo próprio, mas com a extraordinária evolução tecnológica havida nos processos industriais na fabricação dos derivados da cana, o bagaço passou a significar uma solução viável e econômica na co-geração elétrica.
Para ele, "os números variam, diante das inúmeras indústrias em construção, em todo o Brasil. Conforme algumas fontes, no período 2007 - 2011, as usinas de açúcar e álcool poderiam ofertar mais de 5 mil MW, já descontando toda a eletricidade indispensável para o consumo interno das usinas".
Na sua análise, Bertelli salientou que para a produção de energia a partir do bagaço da cana, os entraves são poucos, pois " a geração de bioeletricidade, com o emprego do bagaço é limpa, não traz prejuízos ambientais ou à sociedade, o que é, nos dias atuais empecilho para as novas hidrelétricas, diante da ótica das autoridades do setor ambiental".
Disse também que em recente trabalho, o prof. José Goldemberg, com a sua experiência na universidade, e também como ex-presidente da Companhia Energética de São Paulo, a Cesp, disse que "em lugar de reclamar dos órgãos ambientais, o governo deveria enfrentar a realidade e não sonhar com soluções milagrosas, como as usinas do rio Madeira ou nucleares".
Um estudo da Fiesp, segundo Bertelli, concluiu que o custo operacional de longo prazo da eletricidade do bagaço é muito baixo e compensará, adequadamente, a amortização de um investimento inicial para inserir a biomassa do bagaço no planejamento energético, explicou Bertelli.
O diretor da Fiesp entende valer, ainda, "a ponderação que os mais de 7 milhões de quilowatts licitados ou autorizados pelo governo não saíram, ainda, do papel e, após a outorga das suas concessões, demoram mais de sete anos para a sua conclusão. Até que tenhamos, portanto, as hidrelétricas e em face do petróleo, cada vez mais caro e escasso, seria fundamental o maior incentivo ao decisivo aproveitamento do bagaço da cana, a começar pelo fato de que hoje São Paulo é importador dos Estados vizinhos de mais de 50% da eletricidade que consome".
(Por Milton F.da Rocha Filho,
Estadão, 09/07/2007)