O governo chinês prepara o zoneamento agrícola de seu território a fim de produzir etanol e, desse modo, diversificar a fonte de energia. O principal conselheiro de Pequim para mudanças climáticas, Zou Li, confirmou o plano ao Estado e acrescentou que o país vai plantar cana e outros produtos que possam ser transformados em biocombustível. Para isso, segundo ele, os chineses terão de importar do Brasil as tecnologias de produção, além do próprio etanol.
Pequim está sob pressão da comunidade global para que adote medidas no sentido de frear as emissões de CO2, que já seriam as maiores do planeta. Segundo a ONU, os países emergentes já emitem praticamente o mesmo volume de gases que causam mudanças climáticas que os países ricos. Dados recentes das Nações Unidas (ONU) indicam que o aumento do consumo de energia na China nos últimos dez anos corresponde a todo o consumo anual da França. Por isso, segundo Zou Li, o etanol é, de fato, uma opção que o governo chinês leva em conta. “Certamente, o etanol fará parte do rol dos combustíveis que vamos adotar nos próximos anos”, disse Li, que é consultor e professor da Universidade Renmin.
DificuldadesMas a introdução do biocombustível na China não será fácil. “Fizemos estudos e notamos que não podemos passar a produzir matéria-prima para combustível sem ver o seu impacto no fornecimento de alimentos. Com 1,3 bilhão de pessoas, nosso equilíbrio entre terras destinadas ao cultivo de alimentos e garantir que a fome não aumente é algo fundamental”, disse. Segundo o chinês, a falta de terras aráveis na China é um sério obstáculo para o etanol. “Há muitos lugares onde não temos água suficiente e passar a produzir cana, por exemplo, seria uma catástrofe para muitas cidades”, disse. Dados do governo mostram que a China tem só 13% de terras aráveis, 40% menos que a média mundial por habitante.
Além disso, o país vem perdendo 8 milhões de hectares por ano e um sexto da área restante já está poluído. A perda vem ocorrendo especialmente por causa da expansão da urbanização, que invade áreas da agricultura. Não por acaso, as autoridades estão preocupadas com a introdução do etanol em grande escala em um país que precisa aumentar a produção de grãos em 20 milhões de toneladas até 2010 para garantir segurança alimentar de sua população. Para solucionar esse problema, Li revela que um plano estratégico está sendo elaborado para determinar as terras e as cidades do etanol.“Teremos, em breve, um plano que vai indicar exatamente onde poderemos e onde não poderemos produzir o etanol”, disse.
O especialista ainda justifica a rejeição dos chineses em fixar o teto para emissões de gases, como querem os países ricos. “Não temos informações científicas suficientes para tomar uma decisão como essa”, afirmou. Segundo ele, os últimos dados são de 1994. “Vimos que até os países ricos estão tendo problemas para limitar as emissões às metas”, disse ele. Para Pequim, metas impediriam o crescimento do país. “A China está se desenvolvimento e quer dar melhor condições de vida à sua população. Isso significa que cada um deles vai consumir um volume maior de energia. Isso será natural”, concluiu.
(Por Jamil Chade,
Estadão, 09/07/2007)