A falta de mestres e doutores na Amazônia continua a ser o maior problema para o desenvolvimento da pesquisa na região. A necessidade de que sejam formados mais "cérebros" familiarizados com o universo amazônico foi a tônica dos discursos realizados na cerimônia de abertura da reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), ontem à noite em Belém (PA).
"Precisamos multiplicar, sim, e de modo acelerado o número de cientistas nesta região, de mestres, engenheiros, sanitaristas e pesquisadores", disse Ennio Candotti, em seu último discurso como presidente da SBPC - aqui mesmo em Belém ele entrega o cargo ao matemático Marco Antônio Raupp.
Questionado pela Folha, o próprio Candotti afirma que, talvez, a SBPC "não tenha batido nas teclas certas nos últimos anos" e, por isso, não tenha conseguido ajudar muito a ciência amazônica. Em termos relativos, segundo o cientista, o peso que a região tem hoje é o mesmo dos anos 1980.
Para o reitor da UFPA (Universidade Federal do Pará), Alex Fiúza de Mello, além de trazer cientistas de outras regiões do país é preciso que haja um esforço para formar pessoas dentro da própria região. "Não se faz ciência com prédio. Sem conhecimento o Brasil vai perder a Amazônia", disse. Ele calcula em 2.000 o número de doutores hoje na região. Para Candotti, isso é um décimo do necessário para a Amazônia.
Para responder a críticas sobre a falta de recursos da ciência amazônica deveriam ter comparecido à abertura da reunião da SBPC tanto o ministro Sergio Rezende, da Ciência e Tecnologia, como Marina Silva, do Meio Ambiente.
Ausentes ilustresRezende, por motivo de saúde, mandou um discurso por escrito, lido no evento de abertura. Marina, que também enviou um comunicado, ficou em Brasília para tratar de problemas do Ibama, órgão que está sendo reestruturado. No texto de Rezende, apenas números favoráveis. O investimento em ciência e tecnologia, nos últimos quatro anos, chegou aos R$ 35 bilhões, o que para o MCT é "recorde histórico". Só em 2006, foram investidos na Amazônia R$ 10 bilhões.
Além da falta de doutores, Candotti também lembrou de outro ponto polêmico quando o assunto é a Amazônia. "Se de fato estamos preocupados com a soberania de nossa inteligência precisamos lembrar que 70% das pesquisas e informações publicadas sobre a Amazônia em revistas internacionais são feitas por estrangeiros."
Segundo Candotti -que nega que a interpretação da soberania como xenofobia- criticou a prisão do primatologista holandês naturalizado brasileiro Marc Von Roosmalen, em Manaus, condenado a 14 anos de prisão por transportar macacos irregularmente.
(Por Eduardo Geraque,
Folha de S. Paulo, 09/07/2007)