Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), discorda da idéia de que o planeta não vai esquentar nos próximos anos e de que o gás carbônico emitido pelo homem não tem papel decisivo no aumento da temperatura, defendida pelo professor Luiz Molion.
Ele afirma que os dados do quarto relatório do painel, divulgado este ano, foram obtidos a partir de instrumentos de alta precisão. E garante que a concentração de gás carbônico na atmosfera está subindo e o homem tem muita culpa nisso.
“É possível até saber que essas moléculas de gases do efeito estufa vieram da combustão do carvão, do petróleo, do gás natural. Então, essa alta na emissão não tem origem no ciclo biológico natural da vegetação ou dos oceanos”, diz, discordando da versão de Molion para a origem da maior parte da emissão do gás.
Molion aponta o que considera um erro no relatório divulgado em fevereiro pelo IPCC: a constatação de que a concentração de gás carbônico na atmosfera atingida atualmente, acima de 375 partes por milhão (ppm), é inédita nos últimos 650 mil anos. Segundo ele, pesquisadores concluíram que, em meados do século 19, a concentração chegou a superar 500 ppm.
Para ele, o possível erro teria resultado da técnica de perfuração de gelo, utilizada para datar e detectar a quantidade de gás carbônico na atmosfera há milhares de anos. Isso é possível por meio da retirada de “bolhas de ar”, formadas pelo acúmulo de neve. “O problema é que esses cilindros de gelo sempre deram concentrações menores do que as que são observadas atualmente, e a razão para isso está no fato de que essas bolhas se modificam isotopicamente e quimicamente ao longo dos anos. Não estão intactas”.
Carlos Nobre discorda. Ele diz que até a Revolução Industrial, os níveis de gás carbônico não passavam de 280 ppm. “Todas as medidas palioclimáticas feitas em todas as geleiras do mundo não indicam que o gás passou de 300 ppm por pelo menos 1 milhão de anos. Teve valores muito altos, mas [apenas] cerca de 35 milhões de anos atrás, em que passou de mil ppm”.
(Por Monique Maia e Julio Cruz Neto,
Agência Brasil, 08/07/2007)