Além de questionar as conclusões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), o professor Luiz Molion, PhD em meteorologia, afirma que as projeções podem ter sofrido pressões políticas de governos de países desenvolvidos, como Alemanha e Inglaterra, preocupados com o crescimento de países em desenvolvimento, como o Brasil, que dispõem de maiores reservas naturais para geração de energia, por exemplo. Por isso, teriam interesse em superdimensionar o problema climático.
“A quem interessa o aquecimento global? É uma pergunta que tem de ser feita. É difícil responder, mas pode estar embutido um esquema urdido pelos países ricos para impedir o crescimento dos países em desenvolvimento”, sugere.
O pesquisador Carlos Nobre, integrante do IPCC, responde de forma direta. “Os governos indicam vários nomes de cientistas, mas o painel é independente, não tem representantes de governos. E só entram no IPCC cientistas com muita credibilidade e que sejam atuantes na área de mudanças climáticas. Não existe ‘achismo’ no IPCC, tudo está muito bem embasado e não entramos em aspectos políticos”.
O cientista conta que já participou de três painéis intergovernamentais (1990, 2001 e 2007) e diz que o processo para aprovação dos textos é muito transparente e passa por uma revisão da comunidade científica mundial, além de uma sessão final em que os representantes de governos aprovam o texto final. “Esse processo é o mais transparente do sistema ONU. Se alguém quer criticar alguma conclusão cientifica, podemos debater sem problemas, mas querer desmerecer todo o trabalho do IPCC em função de uma teoria conspiratória é inaceitável”.
A secretária nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, Thelma Krug, acha impossível um relatório elaborado por "500 pessoas" ter esse viés político. Ela afirma que todos os governos tiveram o mesmo peso e que as discussões foram "muito intensas".
Krug reconhece que o IPCC não faz pesquisa, apenas "aglutina conhecimento já existente". E que esse conhecimento é produzido majoritariamente nos Estados Unidos e na Europa. E que o próprio relatório menciona que a questão da coleta de dados é mais limitada nos países em desenvolvimento. Mas diz haver mecanismos para compensar o degrau científico e tecnológico entre os países ricos e os demais.
O IPCC, diz ela, procura assegurar o equilíbrio geográfico e regional através do processo de seleção de cientistas. "Não que o número seja igual de país para país, mas tenta-se fazer um balanço".
Além disso, custeia a participação de cientistas dos países mais pobres através do trust fund, enquanto aqueles dos países ricos pagam a própria fatura. E o fato de serem "convidados" não provoca neles uma sensação de inferioridade e submissão? "Os cientistas não fazem normalmente esse discernimento, são de bom nível".
(Por Monique Maia e Julio Cruz Neto,
Agência Brasil, 08/07/2007)