Sem fazer alarde nem deixar pistas, abelhas de diversas regiões do planeta estão desaparecendo. Elas saem em busca de néctar e pólen e não retornam mais às suas colméias. Esse misterioso sumiço tem sido notado, nos últimos anos, nos Estados Unidos, no Canadá, em países da Europa e até no Brasil. O problema é grave. Em termos ambientais, as abelhas são importantes polinizadores naturais. Ao levar o pólen de uma flor a outra, elas induzem a formação de frutos e sementes. Ou seja, são protagonistas na reprodução das plantas.
Em termos econômicos, esses insetos são os mais tarimbados produtores de mel na natureza. Além disso, são cada vez mais empregados na agricultura, polinizando lavouras de abacate, maçã, laranja, amêndoa e cenoura, por exemplo. O sumiço das abelhas veio à tona no ano passado, nos EUA e no Canadá. No último outono do Hemisfério Norte, criadores que alugam enxames para agricultores se assustaram com um desaparecimento acima da média. Em poucos meses, o problema dizimou abelhas em metade dos 50 Estados americanos e em três províncias canadenses. Apicultores chegaram a perder 90% de suas colméias.
Para uma melhor dimensão do estrago, o biólogo americano Edward O. Wilson amplia o mundo dos insetos à escala humana. “De certa maneira, é o Katrina da entomologia”, comparou ele, que é professor da Universidade Harvard, ao jornal Washington Post, citando o furacão que há dois anos matou pelo menos 1,5 mil pessoas nos EUA.
Os americanos batizaram o esvaziamento das colméias de desordem do colapso das colônias (CCD, na sigla em inglês). As razões da alta mortalidade, porém, continuam desconhecidas. Os cientistas estão correndo atrás de uma resposta, mas ainda não conseguiram passar das hipóteses. Talvez seja a intoxicação por inseticidas - cada vez mais usados na agricultura -, talvez a infecção por vírus e ácaros. Diante do mistério, não se descarta nem mesmo a radiação dos telefones celulares.
“Quando uma abelha melífera encontra algo interessante, o
grupo inteiro vai junto. É por isso que é tão vulnerável, mais que uma abelha
nativa”, explica o biólogo americano David De Jong, doutor em entomologia pela
Universidade Cornell e professor de genética na Universidade de São Paulo (USP)
Abelhas no Senado
Nos EUA, o mundo dos insetos foi alçado a assunto de
política pública. Em abril, o FDA (a agência responsável pelo controle de
remédios e alimentos) realizou um congresso em Washington para discutir o tema.
De Jong foi convidado para expor a situação brasileira. Até a senadora Hillary
Clinton, aspirante à presidência, vestiu a camisa dos apicultores. “Precisamos
tomar as ações necessárias para ajudar nossos produtores de mel e agricultores
e evitar que a situação fique pior”, disse ela, que propôs mais verbas para
investigações.
A preocupação governamental não é à toa. Por ano, a
agricultura que depende da polinização das abelhas - são mais de 90 tipos de
alimento - injeta na economia americana a considerável cifra de US$ 14 bilhões
(cerca de R$ 26,8 bilhões) por ano. Os cientistas, porém, não acreditam que o
sumiço possa levar à extinção. As abelhas já voavam muito antes do aparecimento
do homem. O fóssil mais antigo desse inseto tem 100 milhões de anos. O homem
moderno surgiu há cerca de 100 mil anos.
(Por Ricardo Westin, Estadão, 07/07/2007)