Muitos dos mais de 10 mil amantes da música esperados este sábado (07/07) no pavilhão circular conhecido por «Dome», em Northgate, Joanesburgo, pouco ou nada sabem sobre o futuro do ambiente na África do Sul, um país sem plano neste capítulo e onde o carvão domina o sector energético. Apesar da África é ser uma das principais vítimas das nações mais desenvolvidas e poluidoras do hemisfério norte, muitos esquecem ou ignoram que a África do Sul é um dos 10 maiores emissores per capita de gases responsáveis pelo efeito de estufa em todo o mundo.
Pior do que isso, o governo do presidente Thabo Mbeki continua sem aprovar uma plano estratégico para o ambiente, tendo mesmo declarado a sua intenção de reactivar 3 centrais geradoras a carvão e construir outras 2 para reforçar a capacidade geradora das quase duas dezenas que estão em funcionamento no país e que satisfazem a maioria das suas necessidades energéticas.
Se os participantes no concerto «Live Earth» em Joanesburgo assinarem a petição mundial que é subscrita pelos organizadores dos 8 concertos que hoje se realizam em outras tantas cidades de 5 continentes, o governo do ANC ficará, no mínimo, embaraçado pelas suas exigências. Uma delas é que os países coloquem uma moratória na construção de centrais movidas a carvão, desde que elas não disponham de tecnologia redutora do carbono.
As energias renováveis não têm conhecido crescimento significativo, sendo rara a casa ou prédio na África do Sul que possui painéis solares, embora o país seja banhado por Sol durante grande parte do ano, de tal forma que o «astro-rei» faz parte de todas as campanhas turísticas sul-africanas para atrair amantes da praia, do calor e das reservas de animais. Também nada foi feito para utilizar a energia eólica e nenhum gerador eléctrico movido a vento está em funcionamento no país, apesar das excelentes condições existentes em vastas regiões.
Recentemente confrontados com um défice agudo de energia eléctrica, em particular na região do Cabo, provocado por falta de adequado planeamento das suas necessidades energéticas face a uma década de crescimento económico com valores anuais próximos dos 5-6 por cento, os responsáveis governamentais apostaram em soluções de curto prazo pouco ambiciosas e claramente não motivadas por preocupações ecológicas.
Vão ser construídas pelo menos mais duas centrais movidas a gás natural, reactivadas 3 e construídas 2 novas movidas a carvão, estando a ser estudada a possibilidade de avançar com a construção de mais uma ou duas centrais nucleares, que se juntarão à que actualmente existe em Koeberg, perto da Cidade do Cabo.
A autorização para construção da primeira das novas centrais a carvão (Medupi, no Limpopo, com 4.500 MW de capacidade), já foi dada pelo governo à empresa de electricidade Eskom. A Imprensa deu conta em semanas recentes do grande empenho de um dos vizinhos a norte da África do Sul, o Botsuana, em comercializar as suas vastas reservas de carvão para colmatar os défices regionais de energia.
Uma conferência que teve lugar naquele país há 2 semanas para chamar a atenção para o potencial das reservas de carvão existentes no seu subsolo atraiu especialistas e potenciais clientes de toda a região. Segundo uma publicação sul-africana, empresas nacionais, em parceria com um grupo canadiano, planeiam construir uma gigantesca central de produção de energia eléctrica a carvão no Botsuana. O principal cliente da sua energia será a África do Sul.
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Diário Digital / Lusa, 07-07-2007)