Todo governo às vezes
gostaria de varrer algumas informações embaraçosas para debaixo do tapete.
Felizmente, isso é difícil de fazer quando organizações internacionais como o
Banco Mundial estão envolvidas. Exceto, ao que parece, se o governo em questão é
o da China. Segundo um relatório publicado na edição de terça-feira (03/07) do jornal
britânico Financial Times, o governo chinês pressionou o Banco Mundial (Bird)
para retirar estatísticas potencialmente prejudiciais de um relatório sobre
poluição no país.
Entre os cortes
supostamente feitos estaria a revelação de que cerca de 750 mil pessoas estão
morrendo prematuramente todos os anos em razão dos altos níveis de poluição do
ar e da qualidade ruim da água. Outra supressão teria sido a de um mapa
particularmente condenatório da China, mostrando quais partes do país sofreram
mais mortes relacionadas à poluição.
Autoridades chinesas
pediram ao Bird que suprimisse a informação quando um esboço foi concluído em
2006, segundo o jornal. “O Banco Mundial foi informado de que não poderia
publicar essa informação. Ela era muito sensível e poderia causar agitações
sociais”, disse ao jornal um dos participantes do estudo. Consultores disseram
que o Banco Mundial concordou “com relutância” em suprimir a informação.
O relatório “The Cost of
Pollution in China” (O custo da poluição na China) ainda não foi oficialmente
publicado, mas uma versão apresentada numa conferência em Pequim, em março,
está disponível na internet.
O Bird reagiu à reportagem
dizendo que o texto ainda não fora concluído. “Esse é um projeto de pesquisa
feito em conjunto com o governo e as descobertas sobre os custos econômicos da
poluição ainda estão sendo avaliadas”, disse o escritório do banco em Pequim em
nota. “O relatório final, que deve sair em breve, será uma série de trabalhos
resultantes de toda a pesquisa sobre a questão.”
Na sua edição de
quarta-feira, o Financial Times fez uma crítica contundente ao governo chinês.
“Mesmo numa China que é mais capitalista do que nunca, a resposta oficial
instintiva a uma má notícia é suprimi-la com toda a força disponível do Estado
nominalmente comunista. (...) Pequim precisa aceitar que em 2007 esse tipo de
reação é tão fútil e perigosa quanto era em 2003, quando as autoridades fizeram
segredo da disseminação do vírus mortal da Sars."
(Estado de São Paulo com Der
Spiegel, 06/07/2007)