A selva de concreto que compõe a paisagem urbana de São Paulo – 6 mil edifícios residenciais, segundo a Prefeitura – esconde 33 parques. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, com a finalidade de apresentar ao cidadão a variedade de áreas verdes de uso coletivo, lançou no último sábado o Guia dos Parques Municipais, dando seqüência ao Mapa Verde publicado em 2006. Além da divulgação, o livreto contém informações básicas sobre infra-estrutura, funcionamento, fauna e flora, além de um mapa de localização.
O Ibirapuera, cartão postal da cidade, é o mais freqüentado mas não é necessariamente o mais atraente. Cada um tem sua história e características próprias, muitas vezes escondidas pelo desenvolvimento urbano. Boa parte deles eram fazendas, jardins ou áreas particulares. Alguns exemplos são os jardins franceses do parque da Independência, onde Dom Pedro I declarou a independência do Brasil de Portugal em 1822, e o parque do Carmo, que pertencia à fazenda do engenheiro Oscar Americano e abriga pica-paus, andorinhas, preguiça-de-três-dedos e veados catingueiros. O parque Burle Marx, por sua vez, foi criado a partir dos jardins da casa do empresário Baby Pignatari, projetados pelo paisagista que deu nome ao parque. Ainda hoje estão preservados ali remanescentes de Mata Atlântica, habitat de mais de 80 espécies da fauna – principalmente aves.
O primeiro parque da cidade foi chamado de Horto Botânico. Aberto ao público em outubro de 1825, teve seu nome alterado para o atual Parque da Luz no início do século seguinte. Uma das principais atrações é o aquário subterrâneo descoberto em 2000, durante obras de manejo de vegetação. Nos finais de semana visitantes da Pinacoteca do Estado, localizada ali ao lado, estão entre os freqüentadores, assim como aqueles que vão ao Museu da Língua Portuguesa, no prédio da Estação da Luz. Muitos deles descobrem o parque por acaso, atraídos pelas grandes palmeiras reais que adornam seu entorno.
O parque da Aclimação, hoje freqüentado para caminhadas, era local de atividades náuticas como o remo e a natação nos anos 20. O extenso eucaliptal se destaca entre a flora, assim como no parque dos Eucaliptos, que possui uma trilha com pau-brasil, urucum, bananeiras e pitangueiras, onde espécies nativas e exóticas se encontram. Áreas para piquenique e playgrounds são atrativos principalmente para crianças, que comparecem em peso no parque Lina e Paulo Raia. Em meio aos típicos sabiás, tico-ticos e bem-te-vis, está a Escola Municipal de Educação Artística, que recebe alunos de 5 a 12 anos de idade. Nada melhor do que acostumá-los ao verde desde pequenos.
E, como não poderia deixar de ser, também a avenida símbolo da cidade tem o seu parque, cuja história remonta ao processo de urbanização da cidade e à construção da avenida Paulista em 1891, um ano antes da criação do parque Tenente Siqueira Campos, conhecido popularmente comoTrianon. Local de encontro dos intelectuais paulistanos, foi projetado pelo paisagista francês Paul Villon. Além da mata original, que preserva árvores antigas como o cedro e o pau-ferro, guarda riquezas como o jatobá, a sapopemba e o jequitibá-branco. Em meio ao intenso tráfego de veículos e pessoas, o Trianon é um refúgio para trabalhadores e estudantes de uma das regiões mais dinâmicas e populosas de São Paulo.
Aves Luiz Fernando Figueiredo, do Centro de Estudos Ornitológicos da Universidade de São Paulo (CEO/USP), elaborou em março deste ano o projeto “Aves Paulistanas,” a pedido do secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge. O documento propõe ações de estímulo à observação de aves, com informações, orientação por meio de monitoria, cursos de especialização e projetos locais de conservação e educação ambiental, que podem ser implantados em todos os parques municipais, estaduais ou mesmo federais. “Desde 2006 o secretário veio me procurar para dizer que queria ampliar o interesse da população na observação de aves”, diz.
Mas, além de difundir a observação de aves, o secretário quer criar novos parques e estimular o seu uso como bens públicos, permitindo que os cidadãos da cidade do trabalho tenham mais contato com a natureza. Segundo Jorge, as 14 áreas que estão sendo construídas têm o papel de melhorar a distribuição dos parques na cidade, a fim de ampliar o interesse na conservação da biodiversidade e diminuir a pressão sobre os parques atuais. Os Guias serão enviados a bibliotecas públicas, bosques de leitura e parques.
(Por Carla di Cologna,
O Eco, 05/06/2007)