A diplomacia venezuelana
admite que o país poderá ter uma planta de energia nuclear nos próximos dez
anos. Em declarações ao Estado, o diretor do Departamento de Assuntos
Multilaterais da chancelaria da Venezuela, Ruben Dario Molina, confirmou que
Caracas tem planos de desenvolver uma planta. Mas garante: "Será apenas
para o uso pacífico de energia".
Na semana passada, o
presidente da Venezuela, Hugo Chávez afirmou que não descartava a opção nuclear
para o país, durante sua visita a Moscou. "No futuro, Caracas também
poderá seguir nesta direção (nuclear)", afirmou.
Segundo a diplomacia
venezuelana, o plano não será implementando no curto prazo, mas de fato existe
entre os formuladores da política energética do país a convicção da necessidade
de se pensar na construção de uma planta nos próximos anos. A avaliação de
Caracas é de que precisam diversificar suas fontes de energia, apesar de ter
amplas reservas de petróleo e gás. A Venezuela está hoje entre os maiores
fornecedores de petróleo aos Estados Unidos e, com os recursos gerados pela
alta no preço do barril, está financiando não apenas suas despesas internas,
como pagando por iniciativas em outros países. Só na África, os venezuelanos
destinaram mais de US$ 16 milhões em projetos de cooperação.
Para garantir que isso
seja uma opção real, a Venezuela não perde a oportunidade de assinar contratos
de transferência de tecnologia com vários países. Mas em um deles - com o Irã -
certas desconfianças foram criadas, inclusive dentro do Itamaraty. O Estado
obteve um telegrama interno da chancelaria em que ficava claro que a embaixada
do Brasil em Teerã questionou os venezuelanos sobre a natureza dos acordos com
o Irã.
Quanto ao projeto nuclear,
Caracas acredita que pode já contar com uma usina em pleno funcionamento
"bem antes" de 2020. Uma das vantagens, segundo a diplomacia
venezuelana, é o fato de o país contar com reservas de urânio. Dados oficiais
do governo estimam que as reservas seriam de 50 mil toneladas. Caracas garante,
porém, que atualmente não tem a capacidade de enriquecer o material.
(Por Jamil Chade, Estadão, 05/07/2007)