Há pouco mais de um ano um grupo de companhias começou a olhar mais de perto o projeto das usinas hidrelétricas do Rio Madeira. Formado inicialmente pelas brasileiras Schahin e Alusa, além da argentina IMPSA, o grupo já sabia de saída que para disputar com alguma chance o futuro processo de licitação, precisava de uma injeção de capital. Até porque as últimas atualizações do projeto, que tem potência de 6,4 mil megawatts (MW), apontam para um investimento perto dos R$ 26 bilhões.
Portanto, poucas alternativas sobraram para esse grupo de investidores, a não ser o de arrumar as malas e bater à porta de possíveis financiadores. E foi o que fizeram. Com o apoio da consultoria EuroVentures, o grupo alinhavou com o banco de investimentos austríaco Meinl Bank uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), que tem na instituição financeira o seu principal acionista.
Só que tamanho esforço pode ter sido em vão. O Meinl Bank havia assegurado que participaria desta SPE até o fim de 2007. Depois disso, sua presença estaria ameaçada, o que em outras palavras poderá retirar até essa sociedade da licitação das usinas do Rio Madeira.
"Ficou acertado que o Meinl Bank montaria um fundo de investimento para viabilizar boa parte dos recursos para a construção da usina. E esse tipo de operação tem períodos exatos para captação de dinheiro", explica José Reis, presidente do conselho da EuroVentures. E é por isso que o executivo, com 30 anos de experiência no setor elétrico, teme que a demora para obtenção de licenças, divulgação de edital e até para a realização do leilão ultrapasse os seis próximos meses e acabe por tirar essa SPE do processo.
Segundo o atual modelo dessa sociedade de propósito específico, o Meinl Bank tem uma participação próxima dos 85%, enquanto que os 15% restantes dividem-se pelos demais sócios. É o caso de Schahin, Alusa e IMPSA.
A estrutura está tão ajustada que até os próximos passos estão definidos. Caso, por exemplo, essa SPE vença a licitação da usina do Madeira, já está pronto o desenho do consórcio tocador da obra. Batizado como Consórcio Energético Rio Madeira (Cermad), o grupo reúne a construtora italiana Astaldi, as brasileiras Schahin e Alusa, além da argentina IMPSA. A presença de um grande grupo construtor, inclusive, foi uma exigência da instituição financeira da Áustria.
"Nós seremos a companhia líder no que diz respeito ao fornecimento de equipamento", conta Luis Garcia, diretor-geral da IMPSA no Brasil. Dona de uma receita mundial de US$ 400 milhões, a IMPSA, inclusive, carrega neste projeto a intenção de montar uma fábrica no Estado de Rondônia de equipamentos hidromecânicos que serão usados na hidrelétrica. "É um investimento próximo dos US$ 20 milhões", assegura Garcia.
O diretor-geral da IMPSA no país conta também que pretende ter parceiros no fornecimento do maquinário. Luis Garcia explica que já existem entendimentos com uma série de fornecedores instalados na China.
Na parte da construção civil o desenho também tem contornos finais. Salvo alguma mudança de última hora, a líder da obra será a Astaldi, companhia que fatura globalmente 1,5 bilhão de euros por ano, que contará com a participação da Schahin, Alusa e outros grupos.
Mas para que o consórcio não tenha surpresa alguma em caso de vitória no possível leilão da hidrelétrica, os grupos estão terminando algumas avaliações. Uma delas diz respeito aos investimentos necessários para a construção das usinas do Madeira. E mesmo com a sensação de que o orçamento fique próximo dos R$ 26 bilhões, uma coisa já é praticamente certa. O consórcio espera que o preço final do leilão aproxime-se dos R$ 145 por megawatt/hora.
(Por Mauricio Capela,
Valor Econômico, 05/07/2007)