SÃO PAULO – A mobilização dos movimentos sociais ao longo dos últimos dias, com a ocupação do canteiro de obras da transposição das águas do rio São Francisco chegando a reunir cerca de 1.500 pessoas em Cabrobó (PE), não tardou a gerar reações políticas de peso. A principal delas foi anunciada nesta segunda-feira (02/07) em Recife, onde os governadores dos quatros Estados que serão beneficiados com o projeto decidiram se reunir e lançar uma campanha a favor da obra.
Os governadores Eduardo Campos (PSB-PE), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Wilma de Faria (PSB-RN) e Cid Gomes (PSB-CE), anunciaram mobilizações nos quatro Estados ao longo de julho e um ato em Brasília no próximo mês, com a entrega de um documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador da Bahia, Jacques Wagner, não participou do encontro devido a compromissos agendados anteriormente. E Marcelo Déda, de Alagoas, é notório opositor à obra.
A estratégia será colocada na rua pelos governadores no dia 9 deste mês, com a criação dos comitês estaduais que serão responsáveis pelo diálogo com a população, por meio da organização de atividades de mobilização e informação sobre o projeto.
Para Eduardo Campos, “da mesma forma que os contrários à transposição colocam sua posição, é democrático que aqueles que são a favor da obra se manifestem”. Os materiais utilizados devem se basear em informações fornecidas pelo próprio ministério da Integração Nacional, órgão responsável pela obra.
A iniciativa recebeu criticas de alguns setores – especialmente os contrários às obras –, que ligaram a ação ao governo federal, mas os governadores dizem não estar agindo a pedido do Planalto. “Vamos esclarecer que o projeto não foi concebido para beneficiar a agroindústria, e sim para o abastecimento humano”, disse Cid Gomes.
Ação e reaçãoO ato dos governadores deu-se menos de uma semana depois de os movimentos sociais terem ocupado a área em que o Batalhão de Engenharia do Exército deu início em meados de junho aos trabalhos para construção do canal de aproximação do Eixo Norte do projeto, destinado a levar água do rio São Francisco para bacias hidrográficas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê que R$ 6,6 bilhões sejam investidos no projeto até 2010, com benefícios previstos para cerca de 12 milhões de pessoas.
Além de defender que o governo arquive o projeto de transposição e priorize a revitalização do rio e outros projetos mais difusos de acesso à água, os movimentos reivindicam a retomada do território em que as obras estão ocorrendo pelo povo indígena Truká, que reivindica historicamente a posse da área junto à Funai.
Ao longo dos nove dias em que se mantiveram no local, os manifestantes receberam manifestações de solidariedade de diversos personagens críticos à obra, como o teólogo Leonardo Boff e o bispo de Barra (BA) Dom Luiz Cappio. A ONG WWF também divulgou estudo sobre as transposições realizadas em inúmeros países, que traz como uma de suas conclusões centrais que tal tipo de obra só deve ser a última alternativa considerada.
Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável realizou audiência pública para discutir o Atlas das Águas do Nordeste (da Agência Nacional de Águas) e a convivência com o Semi-Árido. De acordo com a Agência Câmara, a Comissão de Meio Ambiente conta com uma subcomissão especial que se dedicará a investigar denúncias relativas ao projeto de transposição do rio São Francisco e acompanhar as iniciativas do governo voltadas à revitalização do rio. O deputado Iran Barbosa (PT-PE) será o relator da subcomissão, que terá como prioridades os impactos socioambientais das políticas públicas destinadas ao rio e as ações de revitalização.
(Por Antonio Biondi,
Agência Carta Maior, 04/07/2007)