Ontem (04/07), agentes da Polícia Federal, com reforço do Batalhão de Choque da Polícia Militar, desfizeram o acampamento montado há pouco mais de uma semana, em uma fazenda no município pernambucano de Cabrobó, onde o Governo tenta dar início à obra de transposição das águas do rio São Francisco. Mas a ação policial, amparada pela Justiça e levada a termo de maneira pacífica, não conseguiu arrefecer os ânimos dos representantes de movimentos sociais que, juntos, fazem esse protesto ao projeto. O grupo seguiu em marcha por cerca de 13 quilômetros até o assentamento Jibóia, de trabalhadores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que dista cerca de dois quilômetros da sede de Cabrobó.
As organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais decidiram permanecer na área. Eles avaliam de forma positiva o resultado da ocupação e antecipam que possíveis ações a serem desencadeadas terão o mesmo objetivo: barrar as obras do projeto de transposição até que este seja arquivado definitivamente.
Os participantes do acampamento defendem que a proposta do Governo é “uma manobra política que atropela a discussão democrática da população e apresenta alternativas falsas ao problema da seca”. Acusam-na de ignorar, por exemplo, as mais de 140 tecnologias de convivência com o semi-árido, a maioria delas reunida e aplicada pela Articulação do Semi-árido – ASA -, além das alternativas apresentadas pelo Atlas Nordeste, lançado pela Agência Nacional de Águas – ANA - no final do ano passado.
O movimento assegura que seriam necessários R$ 3,5 bilhões – a metade do custo da transposição - para realizar 530 obras e atender a 34 milhões de pessoas dos nove estados nordestinos e mais o norte de Minas Gerais - isso significa o abastecimento de 1356 sedes municipais.
Confira a retrospectiva da primeira semana do acampamento25/06- Na madrugada entre os dias 25 e 26 começou a ocupação da área de aproximação do canal norte do projeto de transposição por cerca de 1200 pessoas de Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e Ceará.
26/07- Aumenta para 1500 pessoas o número de manifestantes na área ocupada; são levantados barracos e organizadas equipes de trabalho.
27/06- Segundo o movimento, o Ministério da Integração Nacional divulga “falsa informação sobre ter entrado com o pedido de reintegração de posse da área ocupada”;
- Realizado ato simbólico, no buraco construído pelo Exército durante a visita do ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, batizado como o “buraco de Geddel”. Índios dançam no local, é feito o enterro simbólico dos marcos de concreto do projeto de transposição e o plantio de mudas de árvores e de cereais;
- Rômulo Macedo (do Ministério da Integração) tenta negociar com acampados, mas não é recebido;
28/06- Acampamento recebe os bispos de Barra e de Juazeiro (BA), respectivamente Dom Luiz Cappio e Dom José Geraldo. Juntos participam da celebração de início das atividades do dia;
- Advocacia Geral da União dá entrada no pedido de reintegração de posse da área;
- Trator contribui no mutirão de tapagem do “buraco do Geddel”;
- Ação no Ministério Público Federal pede atuação para garantir o direito dos indígenas. Documento pede agilidade na demarcação do território dos Truká, suspensão das obras da transposição e saída do Exército.
29/06- Juiz da 20ª Vara Federal concede liminar de reintegração;
- Nas imediações do acampamento aumenta a presença de policiais militares e de soldados do Exército;
- Celebração comemorativa ao dia de São Pedro; construção coletiva de barracos e preparação da terra;
30/06- Manifestação do povo indígena Truká pela passagem de dois anos do assassinato de dois índios;
- Festa dos índios no acampamento: Toré até a madrugada do dia seguinte;
- Retorno de caravanas para suas regiões: grupos que deram início à ocupação e montagem do acampamento, retornam e começam a mobilizar outros grupos;
- Aumenta apoio ao acampamento, presencialmente ou com auxílios para a infra-estrutura;
- Segue mutirão de construção de barracos, preparação da terra e tapagem do “buraco do Geddel”.
- Visita do bispo da diocese de Floresta (PE), Adriano.
01/07- Revezamento de grupos; indígenas ficam em maior quantidade no acampamento;
- Cartas e outros documentos de apoio ao acampamento começam a ser divulgados.
02/07- Reunião de urgência dos governadores de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte em Recife: decisão de intensificar e lançar campanha pela transposição do rio São Francisco, a partir do dia 09;
- Inauguração da praça central do acampamento com apresentações de música, poesia e um jantar coletivo;
03/07- Formação interna sobre o que é o projeto de transposição;
- Chegada de novas caravanas de Pernambuco e do Ceará.
(Por Mônica Pinto, com informações da Articulação Popular São Francisco Vivo,
AmbienteBrasil, 05/07/2007)