As freqüentes crises energéticas e a preocupação com a situação ambiental do planeta têm feito muitas empresas procurarem alternativas energéticas como, por exemplo, o gás natural (GN). Um estudo inédito identificou e analisou os fatores que interferem na adoção do combustível em 12 indústrias do setor têxtil da região de Campinas. “Verificou-se que as empresas se preocupam com a questão ambiental e se interessam por essa fonte energética, mas desistem da implantação quando percebem que o retorno do investimento é demorado”, afirma Mariana Sarmanho de Oliveira, autora da pesquisa.
Em seu mestrado, defendido na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, Mariana verificou a viabilidade, tanto em termos econômicos quanto estratégicos, de projetos de investimento da implantação do GN como fonte energética. Participaram da pesquisa empresas de médio a grande porte. A coleta de dados foi feita por meio de observações nas instalações das indústrias selecionadas, de entrevistas e de um questionário. Numa segunda etapa, foi feito um estudo de caso analisando economicamente os investimentos em equipamentos a GN de uma dessas empresas selecionadas que estava interessada em adotar esse combustível em seu processo produtivo.
VantagensSegundo a pesquisadora, além de não agredir tanto o meio ambiente quanto os demais combustíveis fósseis, o uso do GN pode diminuir o custo operacional da indústria, evitando gastos com manutenção, limpeza e compra de equipamentos contra a poluição como filtros, lavadores de gás e multiciclones. “O gás natural permite reduzir o custo do produto final e, conseqüentemente, aumentar a vantagem competitiva da empresa que utiliza esse recurso energético”, observa ela.
Para as empresas pesquisadas, os fatores que facilitariam a utilização desse combustível seriam: a diminuição do consumo de energia do processo; a maior facilidade operacional dos equipamentos (quando comparados com equipamentos que utilizam óleo combustível, energético bastante utilizado no setor têxtil); custos com armazenagem de combustíveis seriam evitados; os equipamentos requerem menos manutenção; proporciona elevado rendimento térmico para o processo produtivo; melhora a qualidade do produto final; aumenta a vida útil do equipamento; entre outros.
Com relação ao que dificultaria sua utilização, observou-se: falta de conhecimento sobre o combustível (o que alimenta a falsa crença de que ele é inseguro, perigoso e de difícil controle); falta de infra-estrutura de distribuição nas proximidades das empresas; poucos fornecedores nacionais de equipamentos; falta de assistência técnica especializada; elevado custo de investimento; o retorno do investimento é demorado; escassez de fontes de financiamento, sejam públicas ou privadas; o fato do preço do GN estar subindo no mercado.
Retorno demoradoMetade das empresas demonstraram interesse na adoção do GN como energético do processo produtivo acreditando melhorar a qualidade do produto, reduzir os custos, aumentar a capacidade produtiva, entre outros fatores. No entanto, quando estimavam os benefícios e os custos envolvidos e percebiam que o retorno do investimento seria demorado (já que tal investimento envolve a melhoria da imagem da empresa como ambientalmente responsável e outros benefícios intangíveis e de difícil mensuração), muitas empresas desistiam do investimento. “Para algumas delas, a preocupação com o meio ambiente é vista como um custo a mais, representando uma ameaça à competitividade empresarial”, afirma a pesquisadora.
Além disso, de acordo com Mariana, poucas empresas tinham técnicas sistemáticas para analisar o investimento. “Em grande parte, o investimento era pensado de forma muito intuitiva”.
O estudo de caso feito em uma das empresas selecionadas surpreendeu a pesquisadora. A pesquisa e mensuração das várias despesas e ganhos revelou não ser vantajosa, em termos econômicos, a adoção do GN. “Muitas das vantagens do gás natural, que também interferem no orçamento da empresa, não foram possíveis de ser mensuradas”. Entre essas vantagens ela cita: a redução da corrosão dos equipamentos; o aumento do lucro com a conquista do consumidor conscientizado com a questão ambiental, a possível venda de créditos de carbono no mercado (já que o uso do combustível contribui para a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera); entre outros. Além disso, o fato de a empresa analisada utilizar lenha, um combustível de baixo custo, como fonte energética contribuiu para tornar a adoção do GN pouco vantajosa.
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Envolverde/Agência USP, 04/07/2007)