Imagine uma casa construída na bela paisagem do Morro da Urca, no Rio de Janeiro, na qual, em pleno verão carioca, é possível abrir mão do ar condicionado durante 95% do tempo, sem que seus moradores sofram com o calor escaldante da cidade maravilhosa. O que parece um milagre na verdade traduz as vantagens de utilizar materiais e técnicas de construção sustentável, adotados pela arquiteta Alexandra Lichtenberg na reforma de sua residência, batizada EcoHouse. A casa ecológica foi apresentada esta semana, em São Paulo, no I Seminário Internacional “Promovendo Construções e Reformas Sustentáveis na Cidade de São Paulo”, realizado pelo Núcleo de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.
Segundo Alexandra, construir com maneira sustentável não tem nada de “alternativo” e em geral traz mais conforto para os moradores do que a maneira tradicional usada na construção civil. Para atingir uma temperatura agradável no interior da sua EcoHouse, a arquiteta trocou as telhas francesas comuns de seu telhado por um lindo gramado (chamado telhado verde) que deixa passar apenas 25% do calor incidente e ainda serve de área de lazer para a família. Alexandra elevou também o pé direito da casa para, em média, 3 metros de altura, garantindo a circulação de ar e a diminuição do calor.
Medidas simples como estas, baseadas em um bom projeto, podem trazer grandes vantagens para o consumidor e para sua cidade. Em Chicago, nos Estados Unidos, já existe uma política pública de incentivo para a construção de telhados verdes com o objetivo de diminuir o efeito de “ilha de calor”, típico das grandes cidades altamente construídas como São Paulo e Rio de Janeiro. Ao incentivar a construção dos telhados verdes, a cidade aumenta a sua área verde total e como conseqüência, promove a diminuição da temperatura geral. Colocar um telhado “vivo” custa um pouco mais do que instalar o modelo tradicional, mas o acréscimo não passa de 10% , e ele garante economia posterior de energia – e de dinheiro - no resfriamento das casas (diminuindo a necessidade de usar ventiladores e ar condicionado) e dos ambientes urbanos – que se tornam mais agradáveis para os seus cidadãos.
A construção sustentável busca conciliar conforto e funcionalidade às diversas formas de minimização de impacto e ao uso eficiente de energia e recursos naturais. Os projetos são pensados de forma integrada ao ambiente externo e colocam os objetivos de sustentabilidade – como economia de água, energia e materiais – em primeiro plano desde a sua concepção.
Uma boa atitude que traz grandes benefícios para o consumidor, por exemplo, é trocar as lâmpadas comuns por lâmpadas fluorescentes compactas, que gastam até 80% menos energia e tem uma vida útil de até 10.000 horas. Para garantir a boa iluminação na hora da troca é preciso incluir no projeto de reforma ou construção o cálculo da quantidade de lâmpadas necessárias para cada ambiente. Na EcoHouse de Alexandra, 98% das lâmpadas são fluorescentes e, portanto, muito mais econômicas.
Quem deseja reformar ou construir segundo os princípios de sustentabilidade precisa observar cada etapa do processo de construção e definir suas prioridades específicas. É necessário fazer, em primeiro lugar, um estudo climático aprofundado para saber como lidar com questões como insolação (diminuir ou manter o calor), ventos e iluminação - aproveitando ao máximo os recursos naturais disponíveis.
Minimizar o gasto de água e materiais, bem como a produção de lixo, durante a construção, no uso diário e na manutenção periódica e reutilizar materiais – como tijolos e madeiras, no caso das reformas, é também positivo. É importante ainda verificar se todo material ecologicamente correto adotado na construção é certificado por órgãos reconhecidos, como o INMETRO (Instituto Nacional de Meteorologia, Normalização e Qualidade Industrial) ou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), garantindo que serão eficientes e duráveis. “Aquecedores solares, por exemplo, só com selo do INMETRO”, garante a criadora da EcoHouse carioca.
Optar por materiais produzidos num raio de 500 km de sua residência é outra indicação dos profissionais do setor para evitar a poluição, uso de combustíveis fósseis e os gastos com transporte por longas distâncias. Além de contribuir para diminuir o aquecimento global, a escolha ajuda a movimentar a economia da sua região.
As construções sustentáveis consideram o ser humano, a natureza e a comunidade em que a obra será realizada de maneira integrada, trazendo benefícios não só para o ambiente, mas para a saúde e o bolso do consumidor.
Vale a pena pensar em sustentabilidade na sua casa, mesmo que você não esteja planejando uma obra no momento. Pequenas mudanças podem trazer grandes benefícios, como a troca de lâmpadas, instalação de medidores para o consumo de água ou a instalação de válvulas de descargas modernas e econômicas. Procure um profissional antenado com as novas tendências e tecnologias sustentáveis e mãos-a-obra!
(
Envolverde/Instituto Akatu, 04/07/2007)