O acampamento na área da tomada de águas do eixo norte, do projeto de transposição, é uma ação integrada entre organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais da bacia do rio São Francisco e de outros estados que se solidarizam com a causa. Uma espécie de mutirão que completa uma semana de ocupação pacífica na perspectiva de permanência por tempo indeterminado, com os objetivos de arquivamento definitivo do projeto e a retomada de terras pelos índios Truká.
A ação iniciou com 1200 pessoas e em menos de dois dias subiu para 1500, dos estados do Ceará, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas e Minas Gerais. No final da semana, determinadas caravanas, que participaram da ocupação, retornaram para suas regiões no sentido de aumentar a mobilização e reunir outros grupos para aderir à ocupação. Hoje o acampamento conta com cerca de 700 pessoas, a maioria indígenas.
Hoje começam a chegar novas caravanas, pelo menos uma de Pernambuco – com gente de Recife, Garanhuns e sertão do Pajeú - e duas do Ceará. Além disso, foi intensificada uma ampla campanha pela manutenção da ocupação.
Policia na área ocupadaNo final da manhã de hoje viaturas da polícia militar começaram a intensificar o trabalho no entorno das fazendas ocupadas. Uma viatura chegou a se posicionar na rodovia principal, em frente à entrada da área ocupada, e mais duas no portão da fazenda que dá acesso ao acampamento.
Entretanto, ainda não há nenhuma notificação oficial aos acampados sobre uma possível ação de reintegração. Além disso, o documento expedido pelo juiz da 20ª Vara Federal, Georgius Luís Argentini Principe Credidio, afirma que a ação deve ser comandada pela polícia federal e acompanhada pela Funai.
Repudio ao patrocínio de governadoresOs participantes do acampamento consideram lamentável a informação de que o Ministério da Integração Nacional deverá doar o material da campanha que será deflagrada pelos governadores do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Ceará. O ato é considerado manipulador e impossível de facilitar o debate amplo e democrático com a sociedade.
Seguindo o exemplo dado pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, Eduardo Campos, Cássio Cunha Lima, Wilma Faria e Cid Gomes, atropelam a população, alimentam a discórdia, utilizam o aparato do estado e o mesmo discurso que fomenta a indústria da seca, o de levar água para o povo pobre do Nordeste.
A campanha coordenada pelos governadores possivelmente não popularizará os números que cercam o projeto de transposição. O custo de R$ 6,6 bilhões a ser utilizado apenas nos quatro primeiros anos e ainda que apenas 4% da água transposta seria destinada à população difusa.
Os participantes do acampamento acreditam que os governadores poderão perder o momento ideal para aprofundar o debate sobre as mais de 140 tecnologias de convivência com o semi-árido, a maioria delas reunida e aplicada pela Articulação do Semi-árido (ASA). Além das alternativas apresentadas pelo Atlas Nordeste lançado pela Agência Nacional de Águas (ANA), no final do ano passado. Esse assegura que seriam necessários R$ 3,5 bilhões – a metade do custo da transposição - para realizar 530 obras e atender a 34 milhões de pessoas dos nove estados nordestinos e mais o norte de Minas Gerais, isso significa o abastecimento de 1356 sedes municipais.
Retrospectiva da primeira semana do acampamentoDia 25/06- Na madrugada entre os dias 25 e 26 inicia a ocupação da área de aproximação do canal norte do projeto de transposição por cerca de 1200 pessoas de Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e Ceará.
Dia 26/07- Aumenta para 1500 pessoas o número de manifestantes na área ocupada; são levantados barracos, organizadas equipes de trabalho e o processo de formação.
Dia 27/06- Ministério da Integração Nacional divulga falsa informação sobre ter entrado com o pedido de reintegração de posse da área ocupada;
- Prefeito de Cabrobó instiga a população a reagir a ocupação;
- Ato simbólico, no buraco construído pelo exército durante a visita do ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, batizado como o “buraco de Geddel”. Índios dançam no local, é feito o enterro simbólico dos marcos de concreto do projeto de transposição e o plantio de mudas de árvores e cereais;
- Rômulo Macedo (do Ministério da Integração) tenta visitar e negociar com acampados, mas não é recebido;
Dia 28/06- Acampamento recebe os bispos de Barra e de Juazeiro (BA), Dom Luiz Cappio e Dom José Geraldo. Juntos participam da celebração de início das atividades do dia;
- Advocacia Geral da União dá entrada no pedido de reintegração de posse da área;
- Trator contribui no mutirão de tapagem do “buraco do Geddel”;
- Ação no Ministério Público Federal pede atuação para garantir o direito dos indígenas. Documento pede agilidade na demarcação do território dos Truká, suspensão das obras da transposição e saída do exército.
Dia 29/06- Juiz da 20ª Vara Federal concede liminar de reintegração;
- Nas imediações do acampamento aumenta a presença de policiais militares e de soldados do exército;
- Comandante de polícia faz sobrevôo no acampamento;
- Celebração comemorativa ao dia de São Pedro; construção coletiva de barracos e preparação da terra;
Dia 30/06- Manifestação do povo indígena Truká pela passagem de dois anos do assassinato de dois índios;
- Festa dos índios no acampamento: Toré até a madrugada do dia seguinte;
- Retorno de caravanas para suas regiões: grupos que deram início à ocupação e montagem do acampamento, retornam e começam a mobilizar outros grupos;
- Aumenta apoio ao acampamento, presencialmente ou com auxílios para a infra-estrutura;
- Segue mutirão de construção de barracos, preparação da terra e tapagem do “buraco do Geddel”.
- Visita do bispo da diocese de Floresta (PE), Adriano.
Dia 01/07- Revezamento de grupos; indígenas ficam em maior quantidade no acampamento;
- Cartas e outros documentos de apoio ao acampamento começam a ser divulgados.
Dia 02/07- Reunião de urgência dos governadores de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte em Recife: decisão de intensificar e lançar campanha pela transposição do rio São Francisco, a partir do dia 09;
- Trabalho coletivo de organização interna da infra-estrutura, formação política
- Inauguração da praça central do acampamento com apresentações de música, poesia e um jantar coletivo;
Dia 03/07- Formação interna sobre o que é o projeto de transposição;
- Chegada de novas caravanas de Pernambuco e do Ceará.
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Conselho Missionário Indigenista, 03/07/2007)