Ibama constata que madeireiras peruanas usam maquinário pesado e grande contingente de trabalhadores para continuar abrindo estrada ilegal, resultando em invasões de terras indígenas e unidades de conservação no Alto Juruá (AC)Conforme já haviam denunciado a Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), a Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa) e a Associação Kaxinawá do Rio Breu (AKARIB), em manifesto tornado público em 5 de junho passado, neste blog e no site Amazônia (
leia aqui), as ações das madeireiras peruanas, dentre elas a Forestal Venao SRL, prosseguem na fronteira com o Acre, aproveitando o início da estação seca.
Desta vez, o avanço dessa frente madeireira e a imensa destruição por ela causada foi novamente constatada por uma equipe do Ibama que, acompanhada de lideranças ashaninka, sobrevoou no dia 2 de julho o Alto Juruá, ao longo da fronteira internacional com o Peru.
A estrada ilegal que parte da localidade Puerto Itália, na beira do rio Ucayali, e que há três anos chegara às cabeceiras do rio Amônia, permitindo inclusive a invasão do território brasileiro pelos madeireiros, continua a ser aberta, com tratores, maquinario pesado e grande contingente de trabalhadores.
Atravessando terras de comunidades Ashaninka do lado peruano, os madeireiros avançam, agora, rumo à margem esquerda do rio Juruá. Aproveitando a abertura do largo ramal na floresta, imensas quantidades de toras de madeiras vêm sendo retiradas, sem respeito por qualquer norma de manejo, e empilhadas às margens da estrada para serem retiradas num futuro próximo.
No ano passado, durante um sobrevôo, uma equipe do Ibama já constatara, com o uso de GPS, que parte da estrada adentrara na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia e na Reserva Extrativista do Alto Juruá, em território brasileiro. No mais recente sobrevôo, o Ibama e as lideranças ashaninka tornaram a registrar o acelerado avanço da estrada rumo à fronteira, no trecho que coincide com a parte sul da Reserva Extrativista.
Novos danos vêm sendo causados à floresta, às caças e a vários igarapés e cursos d'água que correm para dentro do Brasil, pondo em risco a sobrevivência e a saúde do povo ashaninka e das populações tradicionais que vivem no lado acreano.
Por meio de carta tornada pública hoje, a Apiwtxa e as lideranças Ashaninka tornam a denunciar essa destruição causadas pela expansão das atividades realizadas por madeireiras peruanas nos últimos anos no Alto Juruá, solicitam apoio e ações urgentes dos governos federal e estadual e comunicam suas intenções de recorrer inclusive aos fóruns e cortes internacionais, para proteger seu território, a Reserva Extrativista, a biodiversidade da região e a própria soberania nacional.
Leia a seguir a íntegra da carta divulgada pelas lideranças ashaninka a respeito dessa grave situação configurada no Alto Juruá:Marechal Thaumaturgo, 3 de julho de 2007Depois de todo o trabalho feito para impedir a invasão das madeireiras peruanas em território brasileiro, foi constatado na segunda feira, dia 2 de julho de 2007, em um sobrevôo do Ibama na área de fronteira, acompanhado com a liderança Ashaninka Isaac Piyãko, que o problema continua ainda mais grave.
Num sobrevôo em dezembro de 2006, o Ibama, acompanhado dessas lideranças Ashaninka, já tinha constatado essa entrada das madeireiras peruanas em Território Ashaninka pegando parte da Reserva Extrativista do Alto Juruá. Por meio de GPS, constatou-se então uma entrada de 500 metros em linha reta para dentro do território brasileiro.
Essa invasão que ocorre entre os marcos 39 e 40, entre o rio Juruá e seu afluente Amônia, continua hoje avançando em direção às áreas de proteção referentes à Reserva Extrativista do Alto Juruá e o Território Ashaninka do rio Amônia.
Portanto, nós Ashaninka solicitamos que o Governo Federal, através dos órgãos responsáveis, tais como Ministério Público Federal, Exército, junto ao Ibama, articule uma ação imediata que possa impedir o avanço dessa exploração. São empresas que usam máquinas pesadas: tratores, caminhões e uma grande quantidade de pessoas.
Solicita-se imediatamente uma equipe técnica para iniciar o levantamento dos impactos causados tanto à floresta, quanto à fauna e às nascentes dos rios, para que se possa entrar com uma ação imediata contra a empresa ou mesmo o governo peruano, que já foi notificado da invasão por várias vezes.
Essa equipe deverá realizar um levantamento do estrago causado pelo desmatamento nos últimos anos produzindo um documento que servirá de subsídio à ação judicial a ser movida.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) têm acompanhado o caso e apoiam a comunidade Ashaninka numa ação junto aos tribunais internacionais.
Antônio Piyãko
Isaac Piyãko
Benki Piyãko
Pishiro Ashaninka
Ariseme Ashaninka
Shomõtsi Romão Ashaninka
Moisés Piyãko
Winko Piyãko
(Por Marcelo Piedrafita Iglesias, Blog Altino Machado /
Amazonia.org, 03/07/2007)
Marcelo Piedrafita Iglesias é antropólogo e colaborador do blog