O degelo nas regiões polares (Antárctida, no Sul, e Ártico,
no Norte) é um fenómeno cada vez mais evidente e preocupante. As consequências
serão devastadores e, segundo os cientistas, far-se-ão sentir em todo Mundo. Os
gelos glaciares estão a desaparecer por acção do aquecimento global.
Os relatórios sobre o impacto do aquecimento global nestas
regiões são alarmantes. Investigadores de mais de 200 países apresentaram, em
2004, um estudo exaustivo sobre as alterações climáticas verificadas no Ártico,
alertando para a extinção de várias espécies como os ursos polares ou as focas
árcticas até ao final de 2100. Mas não é só a vida animal que sofrerá com este
fenómeno. Os países mais próximos das regiões polares, como a Gronelândia, a Islândia,
a Suécia, a Finlândia ou a Rússia, têm de começar já a preparar o futuro de
forma a atenuarem os efeitos.
No relatório – Artic Climate Impact Assessment (ACIA) – os
investigadores prevêem que mais de quatro milhões de pessoas serão afectadas
pelo degelo dos glaciares polares. As investigações apontam para que se registe
uma subida na temperatura média anual na ordem dos sete graus centígrados,
podendo deixar de existir valores negativos nessas regiões. Entre 1954 e 2003
as temperaturas oscilavam entre os -3 e os 4 graus centígrados. As previsões
estimam agora valores entre os zero e os 12 graus.
Se as alterações introduzidas no ambiente são negativas, o
impacto na economia e na vida das populações não será melhor. Teme-se, por
exemplo, que a Rússia e o Canadá venham a sofrer derrocadas de edifícios devido
ao degelo das camadas existentes no subsolo. Na Sibéria já é possível ver-se as
consequências dessa fusão em algumas construções.
'CONTINENTES' À DERIVA
Imagens recentes da NASA mostram que são cada vez mais os
pedaços de gelo à deriva no oceano. Na Antárctida, a agência espacial
norte-americana identificou, em 2002, um bloco de gelo com cerca de 85
quilómetros de diâmetro. Três anos mais tarde, no Canadá, a NASA registou um
iceberg com cerca de 50 quilómetros. Os cientistas temem que este fenómeno
venha a ser cada vez mais frequente.
Uma das personalidades mais activa na sensibilização da
Humanidade para os problemas do aquecimento global é Al Gore. O ex-vice
presidente dos Estados Unidos, com o livro e posterior filme ‘Uma Verdade
Inconveniente’, traça um cenário negro para os próximos anos, caso os países
mais industrializados mantenham as actuais taxas de emissão de dióxido de
carbono para a atmosfera. Com base nos mais recentes estudos, Al Gore voltou a
chamar à atenção para o aquecimento global: “Se parte da Gronelândia derreter o
efeito sobre Manhattan será pior do que os ataques de 11 de Setembro”. O alerta
está dado.
"SITUAÇÃO AGRAVOU-SE NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS" (Filipe
Duarte Santos, especialista em alterações climáticas)
- CM – A que ritmo está a verificar-se o degelo na
Antárctida?
- Filipe Duarte Santos – É difícil quantificar, mas a
situação agravou-se nos últimos dez anos, período em que se tem verificado um
maior desprendimento dos glaciares. A zona ocidental é mais instável nesse
aspecto. Na Gronelândia, por exemplo, a área de gelo, que durante o Verão se
funde, aumentou 16 por cento desde 1979.
- De que forma Portugal pode ser afectado?
- Para já não há um efeito directo sobre o nosso país. A
fusão do gelo, que está acima do nível do mar, provoca um aumento do nível do
mar, mas essa fusão não é a principal causa para essa subida.
- O que pode ser feito para contrariar o fenómeno do degelo?
- A fusão do gelos glaciares é uma consequência do
aquecimento global. Assim, tudo o que seja diminuir a emissão de CO2 e poupança
de energia é positivo para nós e para o Planeta.
"ABISMO FOI CRESCENDO" (Sérgio Godinho, músico que
actua a 7 de Julho na iniciativa Live Earth no Pavilhão Atlântico, em Lisboa)
- Quando despertou para as questões ambientais?
- Sérgio Godinho – Não se falava em ecologia ou problemas
ambientais quando eu andava na escola. Lá íamos, cantando e rindo, a caminho do
abismo. Ele foi crescendo, como o buraco do ozono.
- Quais as questões que mais o preocupam?
- A falta de esforços concertados, sobretudo pelo egoísmo
norte-americano. A fuga de Bush ao protocolo de Quioto foi um passo gravíssimo
que atrasou perigosamente a salvação de uma só terra.
- De quem é a culpa?
- Os grandes interesses económicos falam muito alto e mandam
geralmente na política. Mas convém que cada um de nós faça parte de uma voz
comum, que fale mais alto ainda.
- Pode a música sensibilizar as pessoas para estes
problemas?
- A música pode sensibilizar para coisas boas e coisas más.
Veja-se os hinos que mandam homens para a guerra. No caso do Live Earth é mais
um alerta. E isso é bom, já de si.
- Vai levar algum discurso preparado?
- O estar presente é a primeira das mensagens. O resto logo
se vê.
TRÊS MEDIDAS PARA SALVAR O PLANETA
PRIMEIRA
Introdução no sistema educativo de uma disciplina relativa à
defesa ambiental desde o ensino infantil. Sensibilizar todas as pessoas, desde
quase o berço, para a necessidade de proteger o nosso Planeta que está em
perigo
SEGUNDA
Campanhas contra o desperdício dos recursos utilizados no
quotidiano das pessoas. A soma de todos os pequenos contributos, de cada um de
nós, significa um avanço brutal na poupança dos recursos
TERCEIRA
Repressão e penalização das actividades altamente poluentes.
Em simultâneo, deveria haver maior investimento público na investigação de
energias alternativas e mais rentáveis para substituir os combustíveis fósseis.
(Por André Pereira e Miguel Azevedo, Correio da Manhã,
03/07/2007)