A espécie humana consome, destrói ou impede que nasçam
plantas responsáveis por retirar quase 16 bilhões de toneladas anuais de
carbono da atmosfera. Por meio da fotossíntese, as plantas fixam o carbono como
matéria vegetal. Esses 16 bilhões de toneladas representam quase 24% de toda a
produção vegetal potencial dos continentes, de acordo com estudo publicado
nesta semana pelo periódico Proceedings of the National Academy os Sciences
(PNAS).
De acordo com os autores do trabalho, nenhuma outra espécie
consome tanto da chamada Produção Primária Líquida (NPP, na sigla em inglês) do
planeta. "Trata-se de um impacto notável na biosfera, causado por apenas
uma espécie", diz o artigo, assinado por pesquisadores alemães e
austríacos, que se valeram de dados estatísticos sobre produção agrícola,
pecuária e madeireira, além de mapas com dados sobre o uso do solo e modelos
matemáticos, usados para estimar qual seria o chamado NPP potencial, ou a
cobertura vegetal dos continentes caso a humanidade não interferisse com os
ecossistemas.
O trabalho destaca que áreas de cultivo e de infra-estrutura
são utilizadas de forma mais intensiva, levando a uma média global de
apropriação humana do carbono que poderia ser fixado pela vegetação da ordem de
83% e 73%, respectivamente. Essa apropriação é menor em áreas de pasto (19%) e
de exploração extrativista de florestas (7%).
Em termos de divisão regional, o uso dos recursos vegetais é
maior no Extremo Oriente, chegando a 63% de toda a produção potencial, e menor
na Ásia Central, com 12%. Em algumas áreas isoladas, como em partes do Oriente
Médio, a apropriação humana dos recursos vegetais chega a ser negativa. Nessas
áreas, o uso da tecnologia permite que a matéria vegetal que sobra no ambiente,
após o consumo humano, seja ainda maior do que o potencial natural estimado.
Dos 16 bilhões de toneladas de carbono vegetal apropriados
pela humanidade anualmente, cerca de 8 bilhões assumem a forma de colheitas
agrícolas. Citando esse dado, os autores do estudo sugerem que "medidas
para promover o uso de biomassa para geração de energia" devem ser
"analisadas com cuidado", já que poderão dobrar o nível atual de
colheitas.
Mesmo reconhecendo que a adoção de técnicas de agricultura
intensiva podem aumentar a produtividade sem aumentar a proporção da vida
vegetal apropriada pela humanidade, os cientistas alertam para o impacto
ecológico negativo da intensificação da agricultura, como o aumento no consumo
de água e o risco de contaminação por pesticidas.
(Estadão, 02/07/2007)