p class="MsoNormal">Reforma do mercado
europeu do açúcar, decorrente da vitória do Brasil na OMC, leva agricultores
alemães a plantar beterraba para produzir bioetanol. Brasil exporta mais açúcar
para a União Européia. Os países da União Européia ainda buscam alternativas
para implementar a reforma do mercado de açúcar, aprovada no final de 2005,
depois da vitória do Brasil, da Tailândia e de outros países na Organização
Mundial do Comércio (OMC), e que se encontra em vigor desde julho de 2006. Os
agricultores alemães apostam no bioetanol para compensar as perdas no açúcar.
Devido à derrota na OMC, a UE é obrigada a reduzir em até
39,7% até 2009 o preço garantido através de subsídios aos agricultores europeus
que produzem beterraba de açúcar. Essa medida deve levar a uma redução de 36%
da produção de açúcar do bloco de 20 milhões de toneladas para aproximadamente
14 milhões de toneladas anuais. A OMC também limitou as exportações de açúcar
da UE a 1,4 milhões de toneladas anuais.
Segundo um balanço feito pela presidência alemã da UE, que
terminou neste fim de semana, até agora a redução foi de apenas 2,2 milhões de
toneladas. "Isso não basta para estabilizar o mercado europeu de
açúcar", informou o Ministério alemão da Agricultura à DW-WORLD. O setor
mostra-se insatisfeito com os prêmios oferecidos por Bruxelas para reduzir a
produção.
Segundo o ministério, existe a ameaça de um excedente de produção
de mais de 4 milhões de toneladas. "Por isso, em maio passado, a Comissão
Européia propôs medidas para acelerar a reestruturação do mercado. Nos próximos
dois exercícios financeiros devem ser abandonadas cotas correspondentes a 3,8
milhões de toneladas de açúcar", informou Berlim, antes de passar a
presidência da UE a Portugal.
O ministério informou ainda que, para o ano financeiro de
2006/2007 (15 meses), a UE previu a importação de 1,88 milhões de toneladas dos
países da África, do Caribe, do Pacífico e da Índia; 380 mil toneladas dos
Bálcãs; 400 mil toneladas da Romênia e da Bulgária; e 570 mil toneladas de
outros Estados.
Brasil exporta mais à UE
Cana-de-açúcar: matéria-prima para açúcar e etanolO Brasil
não foi mencionado nesta estatística, embora o país tenha conseguido aumentar
suas exportações para a Europa após a vitória na OMC. Segundo dados do
Ministério do Desenvolvimento e do Comércio Exterior, as vendas brasileiras de
açúcar de cana em bruto e outros açúcares à UE aumentou de 327 mil toneladas no
período de junho de 2005/maio de 2006 para 598 mil toneladas de junho de
2006/maio de 2007.
A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) prevê para este
ano um aumento de 8% da produção brasileira de açúcar bruto, que deverá somar
21,8 milhões de toneladas. O maior importador de açúcar brasileiro é a Rússia,
que nos 11 meses até fevereiro de 2007 comprou 3,5 milhões de toneladas do
produto. Outros 1,2 milhão de toneladas foram para o Irã e 900 mil toneladas
para o Egito.
Segundo o Ministério alemão da Agricultura, para estabilizar
o mercado europeu, foi aprovada em março passado uma "redução
preventiva" de 2 milhões de toneladas da produção da UE na safra
2007/2008. Isso significa que também os agricultores alemães terão de reduzir
sua produção de beterraba em mais 13,5%.
Do açúcar ao bioetanol
Alemanha é o maior produtor de colza da UEBildunterschrift:
Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Alemanha é o maior produtor de colza da
UESegundo o diretor-executivo do Grupo de Trabalho dos Produtores de Beterraba
da Alemanha, Dietrich Klein, a área cultivada com beterraba de açúcar no país
já caiu 14%, de 419 mil hectares na safra 2005/2006 para 360 mil hectares em
2006/2007.
"Uma parte dessa redução está sendo compensada pelo
plantio de beterraba usada no processamento de outros produtos alimentícios ou
para produção de bioetanol. Sobretudo o bioetanol começa a ser uma alternativa.
A partir de 2008, começa a funcionar uma usina na Saxônia, com capacidade para
produzir 100 mil toneladas de etanol, e outra de 46 mil toneladas em
Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental", explica.
Klein diz que a maioria dos 43 mil plantadores de beterraba
na Alemanha está se adaptando à nova situação na UE. Mas como os contratos com
as usinas de bioetanol rendem menos do que a produção subsidiada de açúcar, que
está com os dias contados, alguns também estariam abandonando a cultura da
beterraba e optando, por exemplo, pelo plantio de colza para biodiesel. Diante
da crescente demanda mundial de biocombustíveis e da baixa do preço do açúcar
no mercado internacional, também no Brasil a produção de etanol concorre cada
vez mais com a de açúcar.
Mesmo assim, por enquanto, ainda parece se confirmar o que
previu há um ano o diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert em
Bruxelas: "Para os agricultores da UE, a reforma do mercado de açúcar será
'adoçada' com subsídios. Os pequenos produtores da África, do Caribe e do
Pacífico são os perdedores. Os grandes ganhadores são os produtores
brasileiros, que no futuro dominarão o mercado mundial do açúcar."
(Por Geraldo Hoffmann, Deutsche Welle, 01/07/2007)