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2007-07-03
As plantações de girassol voltarão a ser vistas nos municípios do Vale do Rio Pardo a partir do mês que vem quando se inicia a segunda etapa do projeto experimental de produção de biodiesel. A iniciativa faz parte de uma parceria entre a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), com o objetivo de proporcionar novas alternativas de renda para os produtores de fumo.

A continuidade do projeto foi anunciada ontem na estação experimental de Rincão Del Rey em Rio Pardo. Desta vez, além de recursos próprios, devem ser aplicados cerca de R$ 150 mil obtidos junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) dentro do programa de Diversificação Produtiva nas Áreas Cultivadas com Tabaco. No ano passado o governo federal já havia anunciado verbas para o empreendimento, entretanto acabou não efetuando o repasse como prometera. Assim, a Afubra acabou custeando o plantio das lavouras experimentais.

Com esse novo aporte o número de cidades atendidas deve aumentar de 23 para 31. “Mais pessoas terão condições de experimentar o cultivo de girassol para verificar as condições desta nova alternativa nas pequenas propriedades”, destacou o vice-presidente da Afubra, Heitor Petry. Os produtores devem ser selecionados pelas secretarias de Agricultura dos municípios envolvidos e a previsão é de que se mantenha o cultivo médio de um hectare por propriedade, inclusive com a adoção de técnicas orgânicas em duas áreas experimentais.

Segundo a proposta da entidade, as pesquisas devem ser desenvolvidas até 2008 para depois começar a produção em maior escala. Petry reafirma que não há interesse em incentivar os fumicultores a trocar o tabaco pelo girassol, mas sim a intenção de fomentar a adoção da nova variedade como fonte de rendimentos.

Biodiesel
Com esta nova fase a expectativa é melhorar o resultado das lavouras. Conforme o coordenador técnico do projeto, Marco Dornelles, a produtividade na primeira etapa foi de 1.512 quilos por hectare, igual a média brasileira, mas abaixo do patamar estipulado inicialmente, que era de 2 mil quilos por hectare. “O clima não foi apropriado para o desenvolvimento das plantas”, completa Petry. O custo dos insumos para a produção atingiu os R$ 533,00 por hectare, média considerada baixa em relação a outras culturas.

No caso do girassol, foram colhidas cerca de 25 toneladas de sementes que serão processadas para extração do óleo vegetal e a torta. Durante a apresentação dos resultados também ocorreu o beneficiamento das sementes para a produção de biodiesel em uma extrusora trazida de São Luiz Gonzaga.

O óleo obtido será processado pela Unisc para a fabricação do biodiesel e extração de glicerina. Os equipamentos chegaram a ser levados para a exposição, mas o processo mesmo deve ocorrer dentro das próximas semanas nos laboratórios da universidade. O combustível será repassado também aos produtores, porém antes será utilizado em tratores da Afubra e da Unisc, visando os primeiros testes. Da torta, resultante do processo de extração, 75% será destinado aos produtores e 25% para pesquisa, sendo que parte será utilizada na engorda de animais, na estação experimental da Afubra, e outra para testes junto à Unisc.

Agricultores podem se associar para extração
A máquina usada para a extração do óleo vegetal tem um custo estimado em R$ 80 mil, mas esse valor pode ser reduzido a partir da associação dos produtores. Esta alternativa foi apresentada pelo técnico de vendas da empresa fabricante com sede em São Luiz Gonzaga, José Cechet. Ele mostrou o sistema de funcionamento da extrusora de processamento a frio para os participantes do dia de campo realizado ontem.

Embora represente uma possibilidade para a região, o sistema já vem sendo adotado com bons resultados em outros estados brasileiros. Segundo Cechet a vantagem é que os produtores podem extrair o próprio óleo – para ser usado puro ou misturado ao diesel – e aproveitar a torta como ração animal. Com capacidade para processar até 400 quilos de semente por hora o aparelho é bastante empregado no Centro-oeste brasileiro.

Entre os que acharam válida a iniciativa está o agricultor Delmi Miotto, 56 anos. Morador de Itapuca ele conseguiu colher 1.240 quilos de semente em meio hectare que cultivou. Este foi um dos melhores resultados obtidos no experimento. Produtor de milho, soja, fumo e feijão ele quer continuar participando da iniciativa e já faz planos para extrair o combustível em casa.

Estímulo
No caso de Delmi Miotto, a opção pela semente de girassol ocorreu a partir da proposta apresentada pela Prefeitura de Itapuca. Ele ressalta que considerou a alternativa viável e cedeu parte de suas terras para a plantação das lavouras em parceria com um outro produtor. Agora pretende se candidatar a uma nova fase do projeto.

Viabilidade técnica e financeira será avaliada
Além de identificar a qualidade do óleo extraído das sementes de girassol, as entidades parceiras têm outro desafio. Será necessário conhecer a viabilidade técnica e financeira para a produção do combustível. De acordo com o coordenador do curso de Engenharia Agrícola, Marcelino Hoppe, a partir dos estudos será possível saber o potencial do projeto. A intenção é estimular os produtores a cultivarem para consumo próprio ou de forma consorciada.

Ele destaca que o processo de produção do biodiesel será realizado em equipamentos fabricados especialmente para esta finalidade. As vantagens que este sistema possibilita também foram ressaltadas pelo professor. “A vantagem ambiental é grande, pois reduz a emissão de gases poluentes na atmosfera”, ressaltou.

Os testes em motores serão feitos em parceria com uma empresa de Venâncio Aires e o trabalho é coordenado pelo pólo de modernização tecnológica da Unisc nas áreas de alimentos e meio ambiente.

(Por Dejair Machado, Gazeta do Sul, 03/07/2007)
 

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