Uma semana após a ocupação das terras onde seriam iniciadas as obras de transposição do São Francisco, em Cabrobó (Pernambuco), os movimentos sociais, as organizações da sociedade civil e os índios que estão na área continuam preparando a terra para plantio de arroz, cultivado pelos índios Truká, e mantendo todas as atividades planejadas. Caravanas estão chegando ao local, saídas de inúmeras partes do Nordeste, para resistir à reintegração de posse pedida pelo Governo Federal.
Os manifestantes não estão assustados com a ação de despejo expedida pelo juiz da 20ª Vara Federal, Georgius Luís Argentini Principe Credidio. Em assembléia geral realizada na noite de sábado, as mais de 1.500 pessoas que participam do acampamento decidiram pela permanência no local. Durante o dia de hoje (02), helicópteros sobrevoaram a área, mas as atividades de formação, como os estudos sobre a história dos índios naquela região, foram realizadas como previstas. À tarde, o mutirão de tapagem do buraco aberto pelo exército durante a visita do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, também foi realizado.
Domingo (01/07), os integrantes do acampamento ergueram uma praça no centro da ocupação para a realização de encontros e reuniões. Durante todo o fim de semana, o local foi preparado para a instalação de moradias que devem alojar as famílias indígenas. Os índios são maioria na área ocupada. Eles buscam retomar as terras da fazenda Toco Preto e Mãe Rosa, cujas posses eles reivindicam há mais de 10 anos, quando no início da demarcação da área deveriam ter sido anexadas ao território indígena.
Na madrugada de sábado para domingo (01), o povo Truká organizou um grande Toré, o principal ritual da comunidade, para marcar os dois anos do assassinato de dois índios Trukás, pai e filho, cometido por policiais militares, que até hoje não cumpriram pena. O ritual serviu também para celebrar a retomada das terras do canal norte do projeto de transposição. Os índios dançaram e cantaram toda a madrugada ao som de maracás e iluminados por uma grande fogueira. Na manhã de sábado, cerca de 800 pessoas, entre acampados e indígenas de povos daquela região, participaram de passeata, celebração e almoço coletivo.
Em carta de apoio ao movimento contra a transposição, o teólogo Leonardo Boff, disse que esse é um momento "de dar uma lição de democracia participativa, obrigando o poder público a discutir com o povo organizado. Aqueles que estão no poder são apenas delegados do poder popular. Este nunca pode ser dispensado. E a proposta alternativa que nasceu das bases não é apenas mais barata mas a mais adequada àquele ecossistema e que melhor atende aos anseios do povo que conhece a realidade".
(
Adital, 02/07/2007)