Pelo menos mais 70 manifestantes contrários à transposição do Rio São Francisco chegaram ontem a Cabrobó, no sertão pernambucano, apesar da expectativa de reintegração de posse das três fazendas ocupadas há uma semana por 1,5 mil pessoas que tentam barrar o início das obras.
Enquanto isso, líderes e até o bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, admitem partir para o confronto na tentativa de frear o projeto. Oficialmente, os líderes da manifestação falam em “resistência pacífica”. Nos bastidores, integrantes dos diversos movimentos acampados - associações de pescadores, militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), Via Campesina, índios trucás, pequenos agricultores e ambientalistas - estão se preparando para o enfrentamento.
Um manifestante, que preferiu se manter no anonimato, alegou que o grupo gostaria de acreditar que não haveria violência. No entanto, reforçou que defendem uma “boa causa” e estão prontos para defendê-la, “haja o que houver”.
Um dos únicos a falar abertamente sobre o clima no local é o bispo de Barra, que fez greve de fome, há dois anos, contra a transposição. “Usamos todos os argumentos possíveis para mostrar ao governo federal o erro que estão cometendo. Agora, só nos resta o confronto”, disse, em entrevista a uma rádio local.
ÔnibusOs novos manifestantes foram acomodados em um acampamento improvisado às margens do rio. A maioria dos que chegaram é de índios da etnia trucá - a tribo alega ter a posse das terras onde o Exército já começa a trabalhar. Segundo a comissão de organização do acampamento, pelo menos mais 300 pessoas devem reforçar ainda mais o grupo até quinta-feira.
“Estamos esperando três ou quatro ônibus do Ceará e da Bahia”, informou Rubem Siqueira, da coordenação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Bahia. Ontem, os manifestantes acabaram de cobrir as escavações iniciadas pelo Exército para a construção do Canal Eixo Norte. “O dia foi muito produtivo. Tampamos o buraco de Geddel, inauguramos uma praça e recebemos dezenas de companheiros para reforçar nossa luta”, disse Siqueira.
No Recife, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, reuniu-se com os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB); do Ceará, Cid Gomes (PSB); do Rio Grande do Norte, Wilma de Faria (PSB), e da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Eles decidiram formar uma frente de apoio ao projeto. Os governadores de Sergipe, Marcelo Déda, e da Bahia, Jaques Wagner, ambos do PT, não participaram do encontro.
(Por Mônica Bernardes,
Estado de S. Paulo, 03/07/2007)