A produção de biocombustível provocou na sexta-feira (29/06) uma divergência pública entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega da Bolívia, Evo Morales, durante a 33ª Cúpula do Mercosul, encontro semestral que desta vez acontece no Paraguai.
Depois de Morales dizer que acha "sinistra (angel) idéia de transformar alimentos em combustíveis", Lula defendeu uma produção integrada dessa fonte de energia no Mercosul. Para o presidente brasileiro, programas de produção e consumo de biocombustíveis permitirão que as disparidades no bloco sul-americano sejam superadas.
A Bolívia é um país associado ao Mercosul, bloco que reúne Brasil, Argentina Paraguai e Uruguai. "Quando (Fidel Castro) se levantou da cama para escrever um artigo criticando o entusiasmo nocivo de (o presidente norte-americano) George W. Bush pelo etanol, tinha razão", disse Morales. Nos Estados Unidos, o etanol é produzido a partir do milho.
"A utilização de milho para produzir biocombustíveis fez subir seu preço. Emprega-se mais terra para cultivar milho", disse o presidente aos governantes de Argentina, Brasil, Chile Equador, Uruguai e Paraguai. "O biocombustível tem feito subir também o preço da terra e da carne", completou.
"Revolução energética"O presidente brasileiro respondeu as críticas de Morales utilizando a palavra "revolução". Lula declarou que o mundo está diante de um desafio na área de energia, no qual "os biocombustíveis oferecem oportunidades sem paralelo para transformar a região em um pólo industrial e tecnológico, na vanguarda dessa revolução energética".
"Estou convencido de que a integração das cadeias industriais, junto com a eliminação de barreiras injustificadas, é o melhor meio para (assegurar) o progresso eqüitativo" dos povos da região, disse o presidente brasileiro.
Após lembrar que se comprometeu a fomentar a instalação de empresas brasileiras do setor em outros países do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai), o presidente destacou que o bloco já criou mecanismos para reduzir as disparidades regionais.
Como exemplo, citou a criação do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), que beneficia principalmente o Paraguai e o Uruguai, e lembrou que nesta cúpula também foram instaurados fundos de ajuda à pequena e à média empresa.
Disparidades regionaisLula afirmou, ainda, que o Mercosul, em seus 16 anos de existência, "não é o que todos sonhavam, mas contribuiu de maneira excepcional para o desenvolvimento" de seus países-membros.
"É um processo que levará alguns anos para alcançar seus objetivos", acrescentou o presidente, que reconheceu que o maior desafio é a superação das graves assimetrias entre países e regiões do bloco.
Entre os mecanismos para a superação dessas disparidades, Lula citou o acordo regional para erradicação da febre aftosa, que ajudará as exportações de carne, um dos principais produtos da região.
O presidente brasileiro disse que, nos próximos meses, Brasil e Argentina começarão a utilizar suas moedas locais no comércio bilateral, e elogiou a decisão de a experiência ser ampliada a todo o Mercosul.
(
EFE / Reuters / UOL, 29/06/2007)