O aquecimento global e a necessidade de substituir os combustíveis fósseis, como carvão e gás natural, colocou a discussão sobre os impactos ambientais da energia nuclear em outro patamar. Embora rechaçada pela maior parte dos ambientalistas, a fonte nuclear já é vista como uma opção capaz de suprir a demanda por energias limpas nos próximos anos.
O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apresentado em maio, aponta a energia nuclear como alternativa concreta aos combustíveis fósseis, ao lado de fontes como eólica, solar e biomassa. O motivo? A geração nuclear não emite gases de efeito estufa e tem elevado grau de eficiência, o que garantiria suprimento de energia para uma população em crescimento.
Tradicionalmente contrários à energia nuclear, alguns nomes do movimento ambientalista já começam a rever posições. O expoente mais conhecido dessa tendência é o cientista inglês James Lovelock, autor de best sellers como A Vingança de Gaia e um dos primeiros cientistas a estudar o aquecimento global.
Hoje Lovelock afirma que a energia nuclear é a única alternativa realista aos combustíveis fósseis e que poderá suprir o imenso apetite por energia elétrica da humanidade sem aumentar a emissão de gases de efeito estufa.
Resíduos
O fundador do Greenpeace, Patrick Moore, atualmente um consultor empresarial, também partilha dos mesmos fundamentos. Para Fernando Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a energia nuclear pode fazer parte da matriz energética brasileira, desde que sejam tomados os devidos cuidados com questões polêmicas, como os resíduos tóxicos, o custo das usinas e segurança.
'Não somos contra o uso de energia nuclear no Brasil, vemos como uma alternativa. As fontes renováveis, como eólica e solar, ainda dependem de incentivos governamentais para serem competitivas', pondera ele. 'O pior seria o Brasil partir para fontes sujas, como termelétricas a carvão', diz.
Ana Cristina Barros, da ONG The Nature Conservancy (TNC), também adota um pensamento mais pragmático. A organização conservacionista, presente em 50 países, não tem uma agenda sobre energia no País, mas defende que os impactos socioambientais relativos a questões de infra-estrutura sejam avaliados por setor.
'Precisamos ter avaliações ambientais estratégicas para a área de energia como um todo. Não ficar discutindo se é hídrica ou nuclear', ressalta. 'Não nos colocamos contra ou a favor. Um posicionamento assim tira a oportunidade de se discutir estratégia de longo prazo', diz ela.
O maior pecado da retomada nuclear brasileira é não ouvir a população, aponta o secretário do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e ex-deputado federal Fábio Feldmann. O ambientalista defende que a retomada do parque nuclear brasileiro seja submetido à avaliação popular, uma vez que a questão é polêmica. 'Isso deveria ser submetido a um referendo. Países como Alemanha e Suécia fizeram plebiscitos para ver se a população queria ou não usinas nucleares', diz.
Desnecessária
No Brasil, a opção pela energia nuclear ainda não atrai muitos simpatizantes. Guilherme Leonardi, coordenador da campanha nuclear do Greenpeace, acha a opção pela nuclear um mal desnecessário. 'É uma opção cara, desnecessária e problemática para o País. Só com programas de eficiência energética poderíamos economizar R$ 117 bilhões até 2050.'
'O grande problema é a visão centralizadora do governo federal, que vê a solução apenas nas grandes obras e não considera a viabilidade de empreendimentos menores de fontes como eólica e solar', concorda Karen Suassuna, do WWF.
(Por Andrea Vialli, Estado de S. Paulo, 02/07/2007)