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angra 3
2007-07-02
A indústria pesada brasileira e os centros nacionais de pesquisa do setor nuclear podem assumir até 71% da construção das novas usinas nucleares do País. O conhecimento adquirido pelo Centro Tecnológico, que a Marinha mantém em São Paulo e em Iperó, será 'um fator estratégico' do plano energético, segundo relatório de informações preparado para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A agência sofre há dez anos os efeitos dos pesados cortes orçamentários aplicados pelo governo ao programa de capacitação em benefício do superávit primário nas contas públicas. Para dar seqüência ao empreendimento em prazo razoável, seria necessário garantir uma dotação de R$ 1,040 bilhão.

Lula vai visitar o Centro Tecnológico no dia 10.

O plano nuclear do governo não se esgota na construção da usina de Angra 3. O mapa de longo prazo do Brasil atômico prevê o surgimento de uma espécie de Angra 4, que pode ser apenas a expansão da capacidade ao menos de uma central do mesmo complexo.

Em todo o País, o projeto pretende chegar a não menos de oito novas usinas até 2030, o ano de referência para que todo o empreendimento esteja em diferentes fases de andamento. A referência inicial é de que os reatores possam gerar acima de 1 mil megawatts. Angra vai produzir 1.350 megawatts.

Seis dessas centrais projetadas fazem parte de um conjunto previsto para atender a demanda da Região Sudeste.A área preferencial para instalação das duas primeiras desse pacote, que formam o Módulo Bandeirante, é uma larga elipse no Baixo Tietê, abrangendo de Ibitinga até o grande reservatório de Três Irmãos.

O empreendimento será o resultado da parceria entre a Eletronuclear e Furnas.

No Sul, o estudo aponta todo o entorno da Lagoa dos Patos, em acordo com a Eletrosul. No Nordeste, o bloco Guararapes contempla duas centrais no espaço entre Xingó e a a foz do Rio São Francisco. A construção da primeira começa em 2017. O Plano Decenal de Energia 2007-2016, que fica pronto em agosto, fixa o início da geração Angra 3 para o segundo semestre de 2013.

O arranjo para o Nordeste do País é amplo - o cenário implica um parque energético formado por seis usinas nucleares.

Tecnologia
O governo vai gastar R$ 8,7 bilhões para tirar Angra 3 do limbo que já custou cerca de R$ 1,5 bilhão e exige R$ 20 milhões anuais com a sofisticada manutenção das 13,5 mil toneladas do equipamento - comprado, pago e inativo há 22 anos.

A análise feita para a Presidência da República sustenta que o Brasil domina quase toda a engenharia de reatores. No ciclo do combustível atômico, falta apenas terminar a planta semi-industrial de produção de hexafluoreto de urânio. Essa é a forma gasosa do minério utilizada no processo de enriquecimento por meio das máquinas ultracentrífugas de alta tecnologia fabricadas sob grande sigilo no Centro Experimental da Marinha em Iperó, região de Sorocaba.

Ali será feita a conversão do yellow cake - o pó amarelo que é a forma primária de beneficiamento de urânio - em gás. A Marinha precisa de 40 toneladas por ano para atender a sua demanda, em torno do combustível para o reator compacto de um submarino. O modelo, entretanto, permite expansão.

O reator brasileiro é do tipo PWR, de água pressurizada. O documento destaca que 'é o arranjo de maior segurança em virtude da tecnologia de isolamento adotada'. O dispositivo é mantido em um vaso de contenção que, a rigor, é o próprio prédio, grande como um edifício de dez andares. São várias camadas: concreto extra-endurecido e uma cápsula de aço revestindo o dispositivo.

As varetas, nas quais as pastilhas de urânio são acondicionadas, têm revestimento próprio. No procedimento, os produtos físseis são retidos por conta da atividade do próprio combustível. 'Um acidente como o de Chernobyl (o maior já havido, com 4 mil mortos), que utilizava grafite inflamável como elemento moderador e não empregava vasos de contenção, é impossibilidade absoluta no reator do tipo PWR', diz a exposição.

Especialistas ouvidos pelo Estado observam que a vantagem de dominar os conhecimentos referentes é poder negociar melhor com eventuais fornecedores externos. Entretanto, o índice 'mínimo atingível' de 71% na nacionalização da empreitada é viável em sete áreas fundamentais da construção das usinas (ver gráfico).

Nacionalização
Construção Civil: 100%

Eletromecânica: 91%

Licenciamento: 80%

Engenharia: 77%

Comissionamento: 75%

Combustível inicial: 60%

Suprimentos: 52%

TOTAL: 71%
(Por Roberto Godoy, Estado de S. Paulo, 02/07/2007)

 

 

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