Encontrar um modelo de cidade que consiga abrigar a crescente população urbana sem causar impactos ambientais muito grandes. Este é um dos desafios que a sociedade tem de enfrentar, de acordo com os números apresentados pelo relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulgado na última semana.
Para a professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas (SP) e ex-secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Raquel Rolnik, “o modelo de cidade sustentável para o futuro é um modelo de cidade onde você tem casas, apartamentos, com espaço suficiente, para as pessoas poderem se sentir bem, dormir, descansar, comer, ler, estudar, mas sobretudo espaços públicos de qualidade: bibliotecas, salas de concertos, parques, jardins, para que a gente possa viver na cidade, e não na casa."
Rolnik chama a atenção para uma das características negativas da urbanização atual, a expansão horizontal das cidades, com condomínios e loteamentos nas áreas periféricas. Segundo ela, esse fenômeno traz impactos ambientais significativos, inclusive uma maior emissão de gases que causam o efeito estufa e o aquecimento global, em virtude do maior deslocamento em automóveis.
A especialista lembra que esse "espraiamento" das cidades também está ligado à incorporação de pessoas de baixa renda às cidades, de forma autônoma, por loteamentos irregulares, por exemplo, e há mesmo casos em que há apoio do poder público para essa expansão. O problema é agravado pela adoção em massa pela classe média dos condomínios fechados.
Essa “urbanização dispersa”, segundo Rolnik, poderia ser evitada se houvesse maneiras mais racionais de organizar o espaço urbano mais central, já dotado de infra-estrutura. Prédios mais baixos e casas geminadas ou superpostas são alternativas apontadas por ela. “O que uma boa cidade deve ter são espaços públicos de qualidade, parques, quadras, praças, jardins, calçadas, arborização urbana, de tal maneira que você more num lugar talvez pequeno e bastante denso, mas atravessa a rua está numa praça, num parque, numa quadra", diz ela. "O modelo de cidade que funciona é um modelo onde a estrutura básica da cidade é uma estrutura de espaços públicos.”
Para se chegar a esse ideal, a professora diz que o papel do poder público é fundamental. O problema é que, segundo ela, as ações ainda são muito fragmentadas e pouco coordenadas. “A gestão ambiental é separada da gestão urbanística, separada da gestão de transportes, separada da política de habitação. Essa fragmentação torna a questão da administração da cidade, do controle do processo de uso e ocupação do solo, muito precária.”
(Por Ana Luiza Zenker, Agência Brasil, 01/07/2007)